Rio - Transpondo hipoteticamente o julgamento do Mensalão ao universo do futebol, a sessão de ontem do Supremo Tribunal Federal teve todos os componentes de uma partida decisiva. Apesar da enorme torcida pela condenação dos réus, o que não muda regras nem no futebol, o STF impôs resultado oposto ao que a maioria desejava e determinou a realização de novo jogo, sem data para acabar e com resultado imprevisível. Como diria o famoso comentarista, a regra, no caso a lei, é clara. Mas, ao aceitar avaliar os embargos infringentes, que serão apreciados um a um, o STF terá de jogar — ou julgar — com uma ruidosa e desesperançosa torcida contra.
O voto do ministro Celso de Mello, que tornou possível a reabertura do julgamento para parte dos condenados e em determinados crimes, não deve ser visto como um viva à corrupção. Os embargos infringentes são tema sensível e encontram argumentos não conclusivos contra e a favor. Como constam da lei, não podem ser ignorados. Mesmo assim, as sessões nas quais os 11 ministros votaram a validade dos recursos certamente figurarão entre as mais difíceis do Supremo.
O Brasil exige a punição aos mensaleiros, acusados de profissionalizar o fisiologismo em nome da governabilidade. Eles já foram condenados, mas, munidos dos melhores advogados, espremem Constituição, regimentos e atas e conseguem sobrevida. Surrada máxima afirma que a Justiça tarda mas não falha. Espera-se que os doutos juízes tenham ciência de que tardar muito é ruim como falhar. Independentemente do conteúdo do último capítulo que a Justiça vai escrever, o país precisa que a novela acabe.