Rio - Se não traz muitas surpresas na composição do perfil do usuário de crack, a pesquisa realizada pela Fiocruz a pedido da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas assombra pelos números. Estima-se existirem nas capitais 370 mil dependentes. É como se toda a população da Grande Tijuca caísse no vício.
Dentro dessa multidão, é preocupante saber que 50 mil são crianças e adolescentes. A maioria esmagadora é do sexo masculino e “não branca”, e metade desse contingente está “em situação de rua”. Conclusões óbvias. Todos sabem que o crack é a droga da miséria: acomete mais os pobres e os arrasta para a indigência absoluta. A perda de todas as perspectivas torna a dependência maior que o próprio desejo de viver.
O desprendimento pela vida fica evidente quando se analisam os números da contaminação por HIV/Aids dentro desse grupo: 5% estão infectados e não se protegem nas relações, número 10 vezes maior que a média da população. A incidência de hepatite também é expressiva, com o dobro do índice de portadores.
A pesquisa aguardada há um ano e meio, é mais uma arma para o governo federal combater esse mal. Toda informação é bem-vinda, sobretudo em relação às dinâmicas do crack: como é o primeiro contato, como o vício domina o indivíduo, como ele se sustenta e a que custo. Já ficou provado que as ‘epidemias’ que assolam as grandes cidades — com mais virulência no Nordeste — jamais serão resolvidas com medidas saneantes e superficiais. Cracolândias não são poeira que se pode varrer para baixo do tapete. É preciso travar a droga e acolher o dependente. Tarefa difícil, mas possível.