Rio - Nesses dez anos de governo PT, talvez o principal acerto seja a política de valorização do salário mínimo. Houve real melhoria de renda do trabalhador e redução da desigualdade social no Brasil. Porém, foi menos do que deveria, uma vez que a desigualdade de renda é uma pequena parte da desigualdade social, dada à crescente concentração de riqueza.
Apesar do aumento da renda média e da massa salarial dos trabalhadores, a participação deles na riqueza nacional continua estagnada. Em 1980, os salários respondiam por 50% da renda nacional; em 2000, haviam caído para 38%; atualmente, estão em torno de 46%.
Em 2004, as Centrais Sindicais lançaram a campanha de valorização do salário mínimo. Realizaram três marchas conjuntas em Brasília, com o objetivo de pressionar os poderes Executivo e Legislativo. O mais importante resultado dessas negociações, entretanto, foi acordado em 2007: uma política permanente de valorização do salário mínimo até 2023.
No primeiro semestre de 2013, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, do total de trabalhadores admitidos, 55,4% foram contratados para receber entre 1,01 e 1,5 salário mínimo. Ou seja, o trabalhador brasileiro ganha pouco.
Resta um longo caminho a percorrer. Com base no custo apurado para a cesta básica de São Paulo, e levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser capaz de suprir as despesas de um trabalhador e sua família — alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência —, o Dieese estima, mensalmente, o valor do salário mínimo necessário. Em agosto, o menor vencimento pago deveria ser de R$ 2.685,47. Este seria, hoje, o salário mínimo justo.
Frei Betto é escritor, autor do romance ‘Minas do Ouro’ (Rocco)