Por bferreira

Rio - O espaço que o tema sustentabilidade tem ocupado na mídia, na agenda estratégica das empresas e na universidade tem permitido o resgate de alguns conceitos, entre eles o de diálogo. Falar de diálogo é falar de relação, de interação entre diferentes entes sociais, sob perspectivas diversas, mas em um espaço — geográfico, virtual e institucional — comum. No dito ‘mundo corporativo’, este conceito tem remetido, usualmente, à noção de engajamento de partes interessadas, entendida como a ação deliberada e necessária das empresas de se relacionar, de maneira contínua, intencional e consequente com os vários segmentos da sociedade que afetam, são ou se sentem afetados pelas suas atividades, considerando, inclusive, a perspectiva destes na gestão.

Portanto, não dá para falar em gestão responsável sem falar em responsabilidade e sustentabilidade nas e das relações. E não há relação responsável, consequente e sustentável sem uma boa conversa. Mas, afinal, em que consiste uma ‘boa conversa’? Em se tratando das corporações — privadas ou não — que atributos acreditamos que o diálogo social deva ter?

Uma variável, absolutamente determinante, diz respeito às atividades das empresas e o quanto estas impactam — positiva e negativamente — os territórios onde atuam. Em segmentos onde as operações geram intervenções significativas nos territórios, emergem as comunidades vizinhas às unidades operacionais como um dos atores mais estratégicos e sensíveis ao diálogo social. Numa visão que preconiza a sustentabilidade das relações e negócios, a dimensão dialógica, portanto, se integra à dimensão de gestão dos impactos, e esta articulação pautará o contexto onde a relação entre empresa e comunidades se estabelece.

Neste sentido, é importante observar que estas variáveis se articulam, de modo que o diálogo social, por exemplo, pode e deve evidenciar junto à comunidade o gerenciamento dos impactos — este precisa ser feito e comunicado. Na medida que envolve não só o poder público, como demais segmentos da sociedade, estes passam a se perceber como copartícipes e corresponsáveis pelo desenvolvimento sustentável do território que compartilham.

No sentido inverso, não há diálogo social que contorne ou minimize tensões no médio e longo prazos se as questões que são caras à comunidade — especialmente as decorrentes de impactos gerados — não são devidamente encaminhadas e tratadas pelas empresas. Relação é fala e gesto. E no contexto da gestão responsável não seria diferente.

Por fim, cabe resgatar aqui uma noção central: a de empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Quanto maiores e mais complexas forem as organizações, mais este será um desafio. As organizações definem seus valores, mas deverão entendê-los menos na sua dimensão absoluta e mais na articulação com os valores do ‘outro’, seja este ‘outro’ o representante da combativa ONG, o líder da comunidade tradicional vizinha à operação ou o editor do principal jornal da cidade.

Bernadete Almeida é consultora e professora da ESPM

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