Rio - Se eu não precisasse trabalhar aqui, será que eu moraria nesta cidade? A pergunta começa a fazer parte do meu cotidiano com uma intensidade que chega a me assustar. Quanto tempo será que eu aguento morando neste canteiro de obras engarrafado? Será que eu consigo adaptar meu cotidiano já tão estressado a todas estas dificuldades crescentes do dia a dia? Sinceramente, não sei. A simples constatação de que já estão montando a árvore de Natal da Lagoa me deixa quase triste.
Não pela árvore, que acho linda, mas pela confusão no trânsito que ela causa. Eu sempre gostei da árvore, aqui mesmo já a defendi, mas a proximidade dela, hoje, me apavora. Ir à Barra da Tijuca é outro problema. Adio o quanto posso, evito, me assusto. Mas, outro dia mesmo eu gostava tanto de ir à Barra... Sempre impliquei com pessoas que dizem que a Barra é outra cidade, discriminando uma área tão moderna e interessante da cidade. Mas o dia a dia tem me angustiado.
À noite, então, engarrafada no Joá, na estrada estreita, cheia de curvas e ônibus assustadores, sempre me arrependo de ter ido visitar os amigos que moram do outro lado do túnel. Por que será que os governantes desta cidade sempre apostam na cidade partida? Será a velha e burra tática de dividir pra governar? Como é que vai ser o nosso futuro? Será que a gente vai ter que sair de casa de véspera para cumprir compromissos marcados para de manhã cedo? A cada dia emplacam mais 300 carros na cidade. Imagina isto por mês, por ano, por anos... Claro que não adianta reclamar dos carros.
É sonho de todos, tão comum quanto o sonho da casa própria. E não deixa de ser direito de todos, sonhar ou realizar. Nem resolve me chamar de alienada porque eu sei que o transporte coletivo é péssimo. Também sei que não sou a única a sofrer nesta cidade. E sei que devo sofrer menos que o povo que vem da Baixada trabalhar na Cidade Maravilhosa e passa duas, três horas espremido na condução. Mas a dificuldade de uns não diminui as dificuldades dos outros. Nem alegra ninguém.
Fazer o metrô é fundamental, mas só quem estava convivendo com as obras deste consórcio mal-educado sabe como é difícil. E não há contrapartida. A gente não sente preocupação dos governantes em melhorar, nem em suavizar os problemas. É cada um por si. Se virando, de olho no ano que vem, ano eleitoral. O pensamento coletivo, o bem de todos se perdeu. Não quero perder a alegria de ter vindo para o Rio há 40 anos, por opção, para realizar meu sonho de ser jornalista e morar aqui. Quero continuar a ser mineiroca. Mas tá difícil. Tá puxado!