Rio - As forças de segurança, estaduais e federais, ocuparam domingo diversas comunidades do Complexo do Lins, para implantação de duas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que beneficiarão, direta ou indiretamente, mais de 1,65 milhão de pessoas. Mais uma vitória da sociedade na luta contra o narcoterrorismo.
Ocorre, porém, que UPP não é sinônimo de crime zero. Desde 2008, quando a primeira de tais unidades foi implantada, na comunidade do Santa Marta, em Botafogo, alguns episódios de ações delituosas têm ocorrido em algumas de suas áreas de atuação, envolvendo policias militares em graves desvios de conduta. Não raro são estes as próprias vítimas dos focos de resistência do banditismo ao projeto pacificador, como ocorreu no mesmo domingo, na Cidade de Deus, onde um policial militar foi morto com tiro na axila quando tentava abordar duas pessoas suspeitas.
Registre-se que moradores de tais comunidades também têm sido vítimas da ação da criminalidade. Isso reforça, portanto, a tese de que é ledo engano imaginar que o policiamento estático e de proximidade das UPPs significaria a inexistência de crimes. O crime é e continuará sendo um fenômeno próprio do convívio humano, em maior ou menor proporção.
A UPP é, sem dúvida, vitória da sociedade contra o poder paralelo. No entanto, a ocupação não pode ser somente a policial. O projeto, para que alcance a real finalidade, precisa englobar a invasão social. Só assim será desconstruído o conceito de ‘cidade partida’. UPP não é projeto social. É a estratégia de ordem pública que possibilita a invasão social e o resgate da cidadania. O crime, todavia, continuará sendo resultado indesejável, próprio da ação humana, tanto no asfalto quanto na favela.
Tenente-coronel da Reserva da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro