Por bferreira

Rio - É impressão minha ou o ressentimento está tomando conta das pessoas de uma maneira crescente? Estou com preguiça de gente ressentida. Que torce contra o outro em vez de torcer a favor. Aliás, tem muita gente que não torce a favor nem de si mesmo, perde seu tempo e sua energia torcendo contra todos. Tudo é motivo para criticar o outro, destilar seu veneno, dar demonstrações da mais profunda inveja, raiva, mágoa ou seja lá que nome tenha este tipo de sentimento.

Estou com preguiça de ler este tipo de opinião nas cartas de leitores, de constatar estas raivas nos blogs, no Twitter e no Facebook. Sempre gostei de ler opiniões. Gosto de perceber olhares diferenciados, às vezes conflitantes, mas que fazem pensar, discordar, concordar, rever. Gosto da multiplicidade de ideias. A diversidade de opiniões é rica, é produtiva. Até mesmo para fortalecer a posição contrária para refrescar os nossos próprios argumentos. Mas ando com preguiça de tanto rancor, de tanta raiva. Não consigo entender por que uma pessoa que lê uma notícia triste ou dramática se dá ao trabalho de pensar ou escrever só para destilar seu veneno.

É um tal de “já morreu tarde”, é um tal de “este tipo de gente procura isto ou aquilo” que não tem fim. É tanta gente “perfeita”, dona da verdade absoluta, tanta gente cheia de falsa certeza que me parece refletir um tempo de pouco pensar, ou de pensar pequeno. Grande mesmo, só os roubos e as maldades. Outra coisa que não consigo compreender é o quebra-quebra da cidade inteira.

Qual é o sentido de quebrar as vitrines das lojas, as fachadas dos bancos, os pontos de ônibus, os vasos de flores, os caixas eletrônicos? Que prazer esquisito é este? Que bandeira de luta é esta? Leva a quê? Leva quem para onde? O dia seguinte fica melhor? O salário fica maior? A vida fica mais fácil? A categoria profissional fica mais respeitada? A cidade fica mais alegre? Isto me lembra uma entrevista que fiz, num Carnaval cujo ano já não me lembro, com um grande compositor e cantor popular de samba. No fim da entrevista, ele disse que queria dar um recado e mandou esta: “Eu queria dizer aos assaltantes de ônibus que parem já com isto. Será que eles não entendem que estão roubando suas próprias tias?”.

Claro que o recado foi inútil, mas o olhar dele sobre a violência faz um certo sentido. De lá pra cá, nada mudou, tudo ficou mais feio. Da cidade aos sentimentos. É muito bom que todo mundo tenha voz, que todo mundo possa se manifestar, reivindicar, se expressar. Mas será que tem mesmo que ser através do rancor? Será que tem mesmo que ser deste jeito raivoso? Será que a vida vai realmente melhorar se estes sentimentos amargos, ou talvez ácidos, prevalecerem? Não creio.

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