Por adriano.araujo

Rio - “A desigualdade mata”, afirmou o epidemiologista britânico Richard Wilkinson ao constatar que nas regiões menos igualitárias os índices de mortalidade são mais altos.

Os pesquisadores Frans de Waal e Sarah Brosnan, ao testar macacos-prego, verificaram que eles se zangavam ao ver um companheiro receber uma recompensa melhor. Sarah entregava um seixo a um dos animais e, em seguida, estendia a mão para que o macaco o devolvesse em troca de um pedaço de pepino. Os dois macacos aceitaram a troca 25 vezes consecutivas.

Sarah passou a entregar a um dos animais um cacho de uvas, um dos alimentos preferidos dos macacos-prego. O outro continuou a receber pepino. O clima azedou. O macaco merecedor de pepino ficou agitado e atirou longe seixo e pepino. Os macacos não se irritavam quando as uvas eram exibidas a todos eles e pepinos continuavam a ser trocados por seixos. A irritação aparecia quando um deles recebia uvas. A desigualdade era motivo da revolta.

Sarah e Frans receberam duras críticas de economistas, filósofos e antropólogos, chocados com a comparação entre macacos e humanos.

Entretanto, em 2008, a opinião pública dos EUA mostrou-se indignada quando, em plena crise econômica, o governo destinou 700 milhões de dólares como ‘socorro’ aos executivos que haviam provocado tantas perdas no setor imobiliário. Uvas aos figurões; pepinos à plebe... No Brasil, as mordomias, em especial as que são pagas com dinheiro público, suscitam sempre revolta entre os eleitores.

A democracia ocidental continuará a ser uma mentira enquanto não criar condições para que todos tenham acesso aos bens essenciais a uma vida digna e feliz. Robin Hood tinha razão. O que a humanidade mais anseia é a partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano.

Frei Betto é escritor, autor do romance policial ‘Hotel Brasil – o mistério das cabeças degoladas’ (Rocco)

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