Rio - Foi o que perguntei quando me convidaram para conhecer o lugar. O nome completo é Centro de Arte Contemporâneo Inhotim, mas é conhecido — menos no Brasil do que no resto do mundo — como Inhotim. Fica perto de Belo Horizonte. No caminho paramos no Pior Buteco do Mundo. Propaganda enganosa porque já conheci muitos piores. Mas estamos falando de Inhotim. Tudo começou quando Bernardo Paz, por sugestão de Burle Marx, resolveu expor sua coleção de obras de arte, a maioria de artistas brasileiros, produzida depois dos anos 60, acervo de cair o queixo. As obras se espalham por vasta extensão da Mata Atlântica, os jardins de Marx debaixo de árvores centenárias estão em toda parte. Esculturas e pavilhões espalham pelo espaço, como um incrível tronco de árvore de bronze, de Giuseppe Penone, fixado a quatro árvores de verdade.
Quando foi instalada estava a nível do solo, mas agora, 20 anos depois , já está a dois metros de altura. Também me chamaram a atenção três fuscas velhos pintados de amarelo, vermelho e azul, de Jarbas Lopes. Alugamos um carrinho, desses de campo de golfe; a pé, façanha impossível para um oitentão. Passamos umas seis horas dentro do parque, só conhecemos uma pequena parte — são mais de 50 pavilhões. Primeiro visitamos o do Tunga. No meio do mato, um enorme prédio de vidro — 2.500 metros quadrados, com obras ciclópicas, como um gigantesco esqueleto negro e uma sala escura que mostra o Rebouças, em tamanho natural, filmado — em preto e branco — de um carro em alta velocidade.
A sensação é angustiante — o túnel nunca chega ao fim — o fundo musical é de Sinatra cantando ‘New York New York’. O efeito é tão impactante que na verdade não dá vontade de ver mais nada. Mas ainda visitamos a instalação da canadense Jane Kardiff; intitulada ‘Forty Part Motet’. É um salão onde as pessoas se sentam no meio de dezenas de alto-falantes que emitem sons bizarros; a sensação de paz e relaxamento é incrível.
Depois fomos para a exposição de Hélio Oiticica e Neville d’Almeida. Hélio e eu frequentávamos o Buraco Quente, ele era passista. Tem uma sala cheia de redes, uma com uma piscina azul e outra com um pula-pula enorme, obviamente o predileto da criançada. Deixei para ver o resto nas próximas viagens, estava literalmente impregnado, uma overdose de arte. Comendo um pão de queijo no parque, fui apresentado ao dono, Bernardo Paz. Nos anos 60, durangos kids, biritávamos no Jangadeiros até o bar fechar. Como é pequeno este vasto mundo.