Por adriano.araujo

Rio - Os números assustam. Me fazem lembrar um conto do Gabriel Garcia Marquez, a memória desconhece o título, mas narra a saga de uma mulher decidida a contar as batidas do seu coração. Nesta crônica, confesso a igual progressão aritmética, pirei com a quantidade de banheiros que já visitei por esses botequins mais vagabundos, desde a primeira cerveja bebida no Méier, em 1973. Somei oito mil, entre sanitários e mictórios. Excluindo os repetidos, devido à fidelidade pelos salões perto de casa, ainda restaram mil toaletes inéditos.

Se alguém me perguntar o motivo de tal cisma, um censo de bexigas, pesquisa sobre rins e uretras, carrego um diurético mais esdrúxulo, uma justificativa crônica: Como consegui reconhecer o acesso ao sexo da minha casinha, o famoso W.C?

Outro dia, ofegante por ouvir histórias de futebol, visitei o simpático Bar da Eva, onde o assunto impera desde a primeira bola de couro costurada até os gols do Neymar em campos espanhóis. Bebe-se um pouco e vem o manjado impulso prostático. Olhos procuram o reservado, pernas tortas feito um Jerry Lewis, e travo na entrada. Os indicadores são chuteiras. A preta, deduzi quase molhado, é a dos homens. Às mulheres, rosinha.

Na época do Casual, bar do genial Chefe Santos, na Rua do Ouvidor, a identificação eram sapatos, salto alto ou sola grossa com cadarços. Num sábado de Carnaval, o sujeito pode se confundir. Outro famoso restaurante tijucano, o Turino, ótimos pratos, decorou seus avisos com imagens de deuses gregos. A diferença está no busto pouco avantajado da nossa Afrodite, os dois em bronze queimado.

Já testemunhei placas num formato de calcinha e cueca separando as partes. Índios e índias classificados por penas ou toureiros com cravos e rosas, sexo oposto num mijo fundamental. Uma loucura.

Com todo o respeito, prefiro as invenções de boteco dirigidas aos temperos e petiscos. Um pouco do óbvio, masculino e feminino, não faz mal a ninguém.

Fechando esse úmido ambiente, certa vez fui repreendido num bar paulistano por ter feito uso do banheiro para Pessoas Especiais, estava escrito na tabuleta. Argumentei ter recebido tantos elogios naquela gloriosa tarde de samba e cerveja que acabei perdendo a noção da modéstia. Tudo esclarecido, lavei as mãos e cumprimentei os novos amigos.

E-mail: palavradesambista@martinhodavila.com.br

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