Rio - Os detalhes que recentemente vieram à tona no caso Amarildo tornam ainda mais repugnante o episódio, desde o início inaceitável em qualquer Estado Democrático de Direito. As novas denúncias de tortura reavivam o que houve de pior na história do Brasil e acendem um alerta para as práticas tirânicas na segurança pública. Agredir até a exaustão qualquer um sob a pecha de suspeito em busca de informações é expediente de ditaduras, que se caracterizam pelo desprezo à vida humana e às prerrogativas que uma república deveria assegurar.
Caso se confirme, o espancamento sob a custódia do Estado não deve ser encarado como ‘ponto fora da curva’ ou uma situação “que não mancha o programa das UPPs”. Receia-se ter deixado mácula indelével. Porque o desaparecimento de Amarildo — sem levar em consideração a tortura — já vai de encontro ao cerne da pacificação, que se sustenta no fim da exploração da população carente, na expulsão da violência gratuita e na cidadania. Pegar um cidadão, seja bandido ou inocente, e julgá-lo ali mesmo jamais pode ser pacificador. Impor-lhe agressões para que admita o impossível, dada a premissa da inocência, muito menos.
O comando que permitiu a barbárie contra Amarildo — que infelizmente só piora — já foi trocado, e o número de PMs indiciados pode passar de 20, seja por tortura, seja por omissão. Mas é importante que a cúpula da Segurança tome providências abrangentes para extirpar em todas as UPPs a menor raiz autoritária e covarde, como a que cresceu e contaminou a pacificação na Rocinha. Senão, de nada adiantarão os esforços para levar paz às favelas.