Rio - Domingo passado, este espaço avaliou o que a Associação Procure Saber poderia causar ao jornalismo. É importante que se sublinhe essa extensão, pois biografias, como ressaltado, nada mais são do que grandes reportagens. O grupo, já numa postura de vítimas incompreendidas, vocifera pelo direito à privacidade e garante respeitar a liberdade de expressão, mas, na prática, privilegia o primeiro em detrimento da segunda. Tal ‘regulação’, que tanto defendem, pode desencadear consequências desastrosas.
O Código Civil, carta anacrônica na qual o Procure Saber fincou suas garras, é difuso nos artigos que despertaram a polêmica. Aplicam-se não só a livros, mas a qualquer veículo — e aí torna-se alvo, ainda que involuntário, o jornalismo como um todo. Os artistas reivindicam poder travar biografias. São pessoas públicas, que dialogaram com o público, que consumiu e adorou suas obras. Sua notoriedade tem o mesmo peso jornalístico que um fato, uma denúncia, um serviço — ou qualquer outra matéria-prima que seja notícia.
Autorização prévia, uma ‘solução’ proposta pela associação, só produziria, no caso das biografias, livros chapas-brancas. Isso jamais seria jornalismo, mas, sim, propaganda, que pouco contribui para uma democracia de verdade e para a formação da cultura. Um veículo de comunicação tem liberdade editorial para defender pontos de vista, e o público tem a prerrogativa de discordar e boicotá-lo. Censurá-lo na raiz é expediente de ditaduras. A que vigorou no Brasil paralisava repórteres tão logo chegassem à redação, para que saíssem somente notícias que agradassem. É isso o que quer o Procure Saber?