Por tamyres.matos

Rio - Afinal, o que há para ser escondido ou que não pode ser revelado, capaz de corroer a figura pública dos que temem o que pode ser dito sobre a intimidade de suas vidas? Toda ideia de censura pressupõe desejo de ocultamento da verdade. Ficou “combinado”, há alguns anos, que é proibido proibir! Bonito o refrão. Mas, na prática, ameaçador!

As pessoas vão se transformando ao longo dos anos e mudam de opinião. Natural que assim seja, faz parte da existência, e biografados não escapam a essas mutações. Sim, mudamos de ideias, de partido e até de ética.

A beleza e a perfeição da obra de um artista nem sempre são compatíveis com sua qualidade humana. Frases de efeito, canções, poesias e peças são prêmios da criatividade. O cotidiano? É implacável, miserável, nivela todos.

Vivemos numa sociedade de controle. Câmeras, pardais eletrônicos, tudo a serviço do monitoramento das pessoas. Por que não controlar quem vai contar as histórias da vida de alguém? Para que revelar detalhes feios da vida íntima dos nossos ídolos? Isso não é um reality show! Nem este formato escapa de uma edição. Fiquemos detidos na obra, na produção musical, literária... assim, devem pensar nossos futuros censores. Mas e a curiosidade do fãs?

Artistas vão ao banheiro, sofrem, são iguais a nós! Brigaram um dia, separaram, traíram, mentiram, aprontaram. Por que esperar deles pessoas especiais? Você gostaria de ver sua intimidade exposta? Ninguém quer. Porém, artistas são pessoas públicas, precisam lidar com isso, suas vidas são de interesse público.

O desejo de proibição revela a existência de fatos nada nobres. Caso contrário, não haveria preocupação. Isso já basta para despertar a curiosidade e aumentar as vendas das biografias não autorizadas, que produzirão perda de faturamento para quem tudo quer controlar, e lucro para os biógrafos com a exposição pública de episódios escondidos a sete chaves ao longo de uma vida. A privacidade da vida íntima é um direito a ser reivindicado! Calúnias? Devem ser processadas! Censura? Não!

Fernando Scarpa é psicanalista

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