Rio - Engrossa o coro global dos descontentes com a espionagem americana — e Obama, cada vez mais acuado, vê suas saídas dignas reduzirem. Agora, são os espanhóis que chiam, depois da revelação de que milhões de ligações telefônicas foram rastreadas. No alto escalão, o clima é tão azedo quanto. A alemã Angela Merkel lidera o bloco dos chefes revoltados, cujas queixas já se fazem ouvir no campo comercial — Estados Unidos e Europa, parceiros de longa data, conversavam para incrementar ainda mais os negócios. Há quem defenda um freio.
Assessores de Obama se contorcem em palavras e frases milimetricamente construídas para afirmar o que lhe convém, embora a verdade seja difícil de disfarçar. A imagem do presidente não podia estar pior. Se optar pelo discurso da ignorância — um dos preferidos dos políticos brasileiros —, passará recibo de um mau gestor, alarmando o mundo com a certeza de que qualquer um pode arapongar quem quiser. O próprio Edward Snowden, que há meses revela detalhes dessa política sórdida, não era nenhum cacique na intrincada hierarquia da segurança.
Caso fique provado que Obama sabia, autorizou ou pediu o monitoramento, estará confirmada uma das maiores decepções da geopolítica recente. Será possível nivelar por baixo os presidentes americanos, independentemente de partido e de ideologias, pois todos parecem agir, não importam os meios, segundo seus controversos interesses.
E o palavrório ianque segue, agora com uma cândida promessa de que líderes não mais serão vigiados. Difícil de acreditar.