Foi divulgado, nas últimas semanas, na imprensa internacional, que crianças — dos cinco aos oito anos de idade - vêm participando, nos EUA, de lutas livres ao estilo do MMA (Mixed Martial Arts).
Estima-se que sejam cerca de três milhões de meninos e meninas que se enfrentam semanalmente nos ringues, muitos, inclusive, sem nenhuma proteção e aos gritos de incentivo dos pais. O tema veio à tona depois que o fotógrafo Sebástian Montalvo percorreu alguns estados americanos e produziu um ensaio fotográfico. Triste de se ver (confira em http://cnnphotos.blogs.cnn.com/category/sebastian-montalvo).
Qualquer pai, mãe ou responsável que vê as fotos, já divulgadas nas redes sociais, fica sensibilizado e contrário à prática. É óbvio que as cenas chocam pelo incentivo e exposição à violência em que as crianças estão sendo colocadas. Em sã consciência quem é que pode ser a favor? Não tem como.
Mas me pergunto se algumas famílias brasileiras que inscrevem seus filhos e netos em escolinhas de futebol – ou em qualquer outra modalidade esportiva que acaba promovendo campeonatos internos – estão tão distantes assim das cenas americanas. Acredito que não.
Vocês já presenciaram um final de campeonato infantil de futebol?
Não é raro ver pais incitando sentimentos de competição, rivalidade e rendimento, muito longe dos valores positivos da prática esportiva, como comprometimento, solidariedade e respeito. Tornando-se muitas vezes, ao que parece, tão (ir)responsáveis como os pais das crianças americanas, reproduzindo o mesmo modelo.
Diante de tremenda pressão, meninos e meninas têm de ser os melhores, têm de conquistar medalhas, têm que se destacar, subir aos pódios. A busca para atender aos anseios dos pais é proporcional ao estresse gerado no contexto diário das crianças. Perde-se com isso um espaço que poderia ser lúdico e enriquecedor para o crescimento de todos, adultos e crianças.
Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Educação e Mídia