Por tamyres.matos
Rio - Magistrados se reuniram na semana passada com Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, para a celebração do Advento. O Advento é o primeiro tempo do ano litúrgico e corresponde aos dias que antecedem o Natal. Para os cristãos, é um tempo de preparação, de alegria e de expectativa, onde os fiéis, esperando a data da comemoração do nascimento de seu Deus, vivem o arrependimento e promovem a fraternidade e a paz.
Tal como nos eventos relatados na literatura cristã, onde Cristo se reunia, dividia o pão e servia vinho, não faltou boa comida no encontro. O jantar no Palácio Episcopal dignificou os convidados. Mas a iguaria foi a recepção e o diálogo com o anfitrião. Em linguagem coloquial, entre sorrisos discretos, Dom Orani falou aos comensais em seu tom pastoral e evangelizador.
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Em tempo no qual os cristãos promovem a vivência da fraternidade e da paz, Dom Orani recebeu uma cópia da obra ‘Por uma cultura de paz’, do cartunista Carlos Latuff. A obra, exposta no Fórum do Rio de Janeiro, causou polêmica, em razão da incompreensão ou atingimento dos interesses daqueles que promovem e — possivelmente — se beneficiam da ‘guerra ao crime’.

Acompanhando a cópia da obra, recebeu também o artigo ‘Pela cultura da paz’, publicado no DIA em 28 de agosto, e autografou o seu artigo ‘Supliquemos pela paz’, que fizera publicar em outro órgão da imprensa carioca em 6 de setembro.
A polêmica criada em razão da exposição da obra de Carlos Latuff no Fórum serviu para que um limão fosse transformado em limonada. A controvérsia propiciou um leilão e, com o produto, a aquisição de uma casa para a família do pedreiro Amarildo, que, como tantas outras famílias vitimadas pela cultura da violência, vivenciará no Dia de Natal a ausência de um ente querido, quando o sentimento haveria de ser a fraternidade e celebração de nascimento.
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Amarildo é o desaparecimento que tem nome. Mas, além das famílias dos desaparecidos, famílias igualmente vivenciarão a ausência de entes queridos, mortos pela política de segurança militarizada, dentre os quais os filhos da juíza Patrícia Acioli.
A censura à obra de arte não a aniquilou. Ao contrário, a promoveu. Arrematada por uma desembargadora paulista, hoje se encontra exposta no Tribunal de Justiça de São Paulo. Os que promovem a guerra não são capazes de matar a esperança e eliminar a possibilidade de vida; e vida com abundância. Independentemente de nossas concepções filosóficas, podemos afirmar que a vida sempre renasce.
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João Batista Damasceno é doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito