Por thiago.antunes
Rio - Domingo passado, ao ligar a televisão, ouvi o âncora dizer que o cantor Nelson Ned nasceu em 1947 em Ubá (MG), de onde saiu com 17 anos, trabalhou por anos numa fábrica de chocolate, gravou o primeiro disco em 1960 e morreu com 66 anos. A conta não fecha. Se nasceu em 1947 e gravou o primeiro disco em 1960, o fez com 13 anos.
Estão faltando anos, inclusive os da fábrica de chocolate. Mas disto ninguém cuidou, e a informação foi repetida em outros meios de comunicação. Na segunda-feira, dia da cremação, a manchete do jornal ‘Meia Hora’ dizia: “Está provado: não existe mesmo enterro de anão”, o que foi considerado, em debates nas redes sociais, ofensivo e fundamento para processo. As pessoas andam muito sensíveis. A matéria foi inteiramente elogiosa ao ‘pequeno gigante da canção’.
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Abordagem humorada, mesmo que considerada inapropriada, não é razão para processo. Abordagens sérias e precisas podem ser exigidas de meios de comunicação que se pretendam informativos; jamais de veículos que mesclam humor e notícia. Além disto, não houve ofensa dirigida a pessoa determinada; portanto, ninguém está legitimado a ajuizar ação. Mas não faltam ‘sabidos’ com seus ‘pareceres’. Há gente demais com opinião e parece faltar gente com conhecimento. Os tribunais não são a panaceia do mundo.
Havemos de construir ou reforçar instâncias mediadoras de relações sociais. O Judiciário é sempre lembrado como responsável por colocar as coisas nos lugares onde se ‘acreditam’ que deveriam estar. Desde impedir piada, proibir concentração de bancários grevistas em ruas onde haja bancos e até mesmo reaver dinheiro entregue inadvertidamente a um estelionatário falido. Não adianta argumentar nem oferecer literatura especializada.
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Há quem tem opinião formada e não deseja informação. As crenças são irremovíveis com argumentos porque irracionais. Diante de argumentos sólidos não recepcionados, o melhor é pedir desculpas e sair de fininho. Para ser feliz ou para papos entre amigos, ninguém precisa de conhecimento. Mas, se alguém quiser falar sério, há de ter argumento resultante de reflexão. Afinal, para as opiniões — pontos de vista individuais —, basta uma olhada para a aparência. Quem tem opinião fala; e pensa depois. E cada um pode falar o que quiser.
Mas, para o conhecimento, são necessárias a análise do essencial, invisível aos olhos, e a formulação de juízos a partir de conceitos que expressem universalidade. O conhecimento é o saber refletido; a opinião, a conversa jogada fora. Mas, ao final, tudo passa. Tudo passará!
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João Batista Damasceno é doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito
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