Por tamyres.matos
Rio - A questão das prisões no Maranhão vai muito além do já desgastado e antigo debate sobre o poder que o Estado tem de ressocializar quem cometeu um crime; esse vício de abordagem do tema, por sinal, vem sendo usado há tempos por oportunistas para se eleger a cargos públicos.
Desculpem-me quem está atrás das grades, mas o foco principal dos esforços — tanto financeiro quanto do tempo de reflexão —, ao meu ver, não deve ser quem já está habituado a sair pelas ruas assaltando, atirando, promovendo arrastões ou matando gente de bem; a prioridade das atenções deve ser a formação de novas gerações que não apresentem o mesmo comportamento.
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Para começar, tenho certeza de que todos os que hoje ocupam fotos nas capas dos jornais atrás das grades um dia foram estudantes, e na sua frente tinham papel, caneta e um professor; um dia eles, assim como nós, entraram numa sala de aula para aprender conteúdos clássicos que muitas vezes não serviriam para o resto da vida.
Agora vamos supor que escolas de Ensino Médio, por exemplo, em vez de ensinar apenas matérias que muitas vezes os alunos não vão utilizar para nada, tenham cadeiras obrigatórias de reflexão do comportamento baseada nas notícias que ganharam repercussão nacional por serem fruto de ações impensadas no cotidiano; que em vez de milhões de alunos estudarem tanto — e serem cobrados exaustivamente — sobre civilizações passadas, serem levados a ler sobre o que acontece com quem quebra as regras hoje, estudando nossas leis e conhecendo as penalidades.
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De nada adianta se continuarmos debatendo a qualidade da alimentação nos presídios, altura dos muros, instalação de milhares de câmeras de segurança, contratação de dezenas de agentes, se o foco, o criminoso, não deixar de ser criado pelo sistema que não o treinou desde cedo ao que acontece de ruim quando leis são contrariadas.
Claro, muitos de nós também fomos criados sem uma educação escolar que nos levasse à reflexão, e nem por isso nos tornamos criminosos. A Educação não é papel exclusivo da escola, a família é a base. Os milhares que estão atrás das grades hoje escolheram seguir por este caminho precisam pagar pelo que cometeram, mas não devemos perder as esperanças: se eles aprendessem a pensar mais sobre o que fariam, vissem de perto as consequências e as punições sendo devidamente aplicadas pelo sistema, muitos não estariam ali.
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Acredito que só fazemos o que aprendemos um dia. E, mais do que ensinar fórmulas complicadas (claro, fazem parte do currículo educacional), as instituições precisam levar ao debate as atitudes do dia a dia. Afinal de contas, o cidadão não nasce pronto, ele é construído, treinado. Então, que nossos filhos sejam treinados para o bem.
Rommel Cardozo é presidente do O Rio pela Paz