Por bferreira

Rio - Os garis, profissionais tão importantes quanto desvalorizados, iniciam uma greve legítima, recolhem suas vassouras no Carnaval e as ruas do Rio de Janeiro ficam emporcalhadas. O que faz o prefeito Eduardo Paes? Lava as mãos com lavanda, numa tentativa de evitar que o mau cheiro o contamine. Não deu.

A crise voltou a mostrar o conhecido temperamento autoritário do prefeito. Ele tratou os trabalhadores como lixo. Não gostou, joga fora. No caso, ameaçou demitir cerca de 300 grevistas. Será que Eduardo Paes agiria de forma assim com professores e médicos? Certamente não. Faz isso contra os garis. Seu autoritarismo deixa um sabor de covardia.

Além da ameaça, a prefeitura deu as mãos ao Sindicato dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação na velha tentativa de desqualificar o movimento ao atribuir a ele motivações políticas. Por trás dos trabalhadores, agiriam partidos, entre eles o Psol, segundo o vice-presidente do sindicato, Antonio Carlos Silva. Não é verdade, nenhum grevista é filiado à legenda.

Mas se fosse membro do Psol, PR, PDT, PT ou PMDB, qual seria o problema? Essa estratégia não é uma afronta à mobilização da categoria, mas à democracia. Partido não existe só para disputar eleição, apesar de legendas de aluguel só aparecerem em período eleitoral. As agremiações são instrumentos de lutas fundamentais ao regime democrático. Todas as pessoas têm direito a se filiar a qualquer partido. Essa ligação não torna seus pleitos menos honestos.

A pauta dos garis é justa? As condições de trabalho são adequadas? Essas perguntas é que precisam ser respondidas. Queria que Eduardo Paes dissesse, por exemplo, quantos secretários usam a máquina pública para ganhar eleições. Quantas associações de moradores são cooptadas para fabricar votos e parlamentares?

Os garis realizam um trabalho competente, mas ganham péssimos salários. Mesmo assim, a situação permanecia invisível até eles cruzarem os braços e a população descobrir que algo não cheira bem.

A categoria não pode viver de Sorriso, para aparecer feliz em desfile carnavalesco. E quero louvar Renato Lourenço, o Sorriso, o gari mais famoso do Brasil, por mostrar corajosamente apoio à greve. Mas os trabalhadores não podem ser tratados como suvenir. Eles brigam por dignidade, para ter seus direitos respeitados. A cidade será limpa, mas o fedor ficará na memória.

Deputado estadual pelo Psol

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