Rio - É solidamente aceita, na ciência política moderna, a noção de que a avaliação do governo influencia decisivamente o resultado das eleições. A lógica é simples: se o desempenho é considerado bom, o governante tende a ser reeleito. Caso contrário, prevalece o voto na oposição.
Se essa regra é realmente verdadeira, o último levantamento feito pelo Instituto Datafolha revela cenário pouco animador para Pezão. A pesquisa informa que a administração do governador Sérgio Cabral teria atingido o seu índice mais alto de reprovação desde 2006. O percentual que considera o seu governo ruim ou péssimo alcançou a marca de 38%, contra apenas 20% que classificam como ótimo ou bom. A taxa de reprovação não é uniforme e varia segundo os segmentos socioeconômicos. Ela é maior entre os jovens, os eleitores com alta renda e escolaridade e moradores da Região Metropolitana do Rio.
De fato, a história eleitoral brasileira não tem sido amigável com governantes com alto índice de rejeição. Se olharmos as últimas três disputas para governador, considerando todos os estados, percebemos que o candidato do governo venceu somente uma em cada quatro eleições quando a reprovação era igual ou superior a 20%. Nas situações em que o total de insatisfeitos superava 35%, cenário semelhante ao que se observa hoje no Rio, nenhum governante conseguiu ser eleito. Parece claro que o insucesso de Pezão reflete a percepção que as pessoas fazem do governo do PMDB.
Curiosamente, a má avaliação não explica sozinha a liderança de Anthony Garotinho nas pesquisas de intenção de voto. Deveríamos esperar que o principal opositor do governo surfasse na onda de descontentamento que marca a segunda gestão de Cabral. Os números mostram, ao contrário, que o ex-governador diminui os seus votos conforme aumenta o percentual de insatisfeitos. Garotinho soma 28% dos votos entre os eleitores que aprovam o governo Cabral, mas cai para 19% entre os que reprovam. No momento, é possível perceber que a maioria dos insatisfeitos declara que votará nulo em outubro.
A leitura das pesquisas indica que Pezão se vê diante de duplo desafio. Sua equipe de campanha precisa, primeiro, melhorar a avaliação de Cabral para tornar sua candidatura competitiva. Paralelamente, é fundamental também trazer de volta os eleitores que aprovam a gestão atual, mas por motivos desconhecidos preferem votar no candidato da oposição. A tarefa não é fácil, mas também está longe do impossível.
Cientista político, professor da Unirio e pesquisador no Iesp/Uerj