Rio - Na proximidade de mais um pleito, fala-se em democracia. Ao ouvir falar em direitos, fala-se em democracia. Ao ouvir falar em ditadura e repressão, fala-se em democracia. Ao falar em protestos, ouve-se falar em democracia. Até ao falar em corrupção, fala-se em democracia. Usa-se a palavra para, de certo modo, acalmar os ânimos, manipular a opinião. Que democracia seria essa, com tantos papéis? A impressão é que se criam novas funções, inexistentes, para banalizar a gênese da suposta igualdade e liberdade. Fala-se em democracia para camuflar seu objetivo.
A falta de consciência e de senso crítico ocasionado por uma Educação deficiente colabora para a não percepção deste processo. Esta deficiência é demonstrada pelo ranking dos piores na Educação que convém ao Brasil, tornando-se mais acentuada quando falamos em Ensino Superior, este que realmente faz o indivíduo se conscientizar e ter um ‘papel social’. Inclusive a democracia, bem como a Constituição do Brasil, preconiza “oportunidades para todos”. Não seria um legado da ditadura, em que era interessante que grande parte da população fosse inconsciente dos acontecimentos e assim, incapaz de perceber além das “grandes obras”?
Vive-se em uma ilusão e ocorre o convencimento de que a ilusão é a verdade. As ações e condições sociais e políticas são de um cinismo incomparável, em uma manipulação ideológica similar aos tempos de repressão, com um aspecto mais efetivo: o repressor não aparece, não é visível, não pode ser acusado e sua ação é eficiente, teatralizada. É uma herança. Nas eleições, a falta de consciência e informação é evidente. Eleições diretas e urna eletrônica seriam elementos de avanço democrático? Deve-se votar em candidatos desconhecidos. Estes devem gastar muito para aparecer na mídia, induzindo-os a outras “opções”.
No poder, em meio à engrenagem alienatória, ocorre um esquecimento quanto aos direitos dos votantes. O horário eleitoral é uma piada de mau gosto, recheado de promessas inexistentes. Se buscarmos nossos direitos em qualquer instância ou instituição, extrema dificuldade e desrespeito são percebidos. “Uma pena que é assim”; “sempre foi assim”, ouve-se. Onde se esconde o direito da população de saber as verdades e direitos efetivos? Realmente saímos da repressão, ou ela estaria camuflada com outras denominações?
Alexandre J. Appio é autor do livro ‘Sociologia: dinâmicas e contextos para sala de aula’. Fernando Molica está de férias