Por bferreira

Rio - É visível o preconceito das babás contra as mães que cuidam sozinhas de seus filhos. Chegamos a uma inversão de papéis tal que o certo vira errado. É como se a babá fizesse parte da indústria da maternidade e você, mãe, não.

A mãe é apenas objeto viabilizador desse mercado que, como o do casamento, ou qualquer outro, cada vez insere mais itens de extrema necessidade no pacote, sendo que tais itens são na verdade superficiais. Numa praça, no shopping, no parquinho ou na festinha, a mãe que está com seu bebê acaba recebendo olhares de reprovação das profissionais. Vivenciei isso em diversas situações. Pode ser que seja porque muitas mães delegaram a elas a função de educar, proteger e divertir, e então você estar vivendo seu próprio aprendizado, com acertos e erros — principalmente para as mães de primeira viagem —, seja alvo de críticas.

É claro que é importante ter essa opção, é um dos recursos para a mãe que trabalha fora e não tem a ajuda da família, por exemplo, embora pedagogicamente dizem não ser a melhor escolha e na prática muitas vezes a usem como uma bengala — não vou entrar neste mérito da questão. Não dá para menosprezar a experiência de babás como especialistas do ramo, mas é estranho sentir-se reprovada por estar simplesmente exercendo a função de mãe. Os tropeços vão desde você desconhecer aquele elevador escondido do shopping a esquecer de levar um alfinete para prender a fralda como sombreiro para impedir que o sol entre naquele ângulo que a capota do carrinho não cobre. É o mínimo de deslize e lá vem uma mostrar que você falha pela decisão de você mesma cuidar do seu filho. Presenciei uma mãe amamentando o neném enquanto o mais velho, de seus 4 anos, corria para os brinquedos. Foi repreendida por uma babá de outra família, como se não fosse capaz de cuidar dos dois sozinha. Pegou a prole e se retirou contrariada.

Não nego que é uma escolha difícil, pois toda ajuda que dê algum conforto à mãe e ao filho, principalmente nos primeiros meses de vida da criança, é bem-vinda e necessária. Ter alguém para preparar a estrutura para que a mãe pegue só a “parte boa”. Mas não pode ser artigo de primeira necessidade, nem pode ser uma funcionária para quem você delegue o papel de mãe. Ser mãe inclui a “parte ruim” também, dizer não, penar 40 minutos ou mais para que a criança coma sem grandes rejeições, cuidar dela mesmo naquela viagem de férias especial, levar ao pediatra. Não é fácil. Ninguém disse que era. Mas se você se der mal na prova, pelo menos sabe que não colou. E até dá para passar de ano.

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