Por bferreira

Rio - Um leitor do DIA, ao ler meu artigo sobre a libertação pela Educação, atribuiu-me a qualidade de comunista. Na mesma semana houve uma manifestação do cardeal-arcebispo Dom Orani reclamando melhor atenção do Estado para os pobres das chamadas comunidades ‘pacificadas’. E o Papa Francisco, conversando com jovens belgas sobre as desigualdades sociais, disse: “Eu ouvi uma pessoa dizer: ‘Quando ele fala dos pobres, o Papa é comunista!’ Mas não, é uma bandeira do Evangelho, a pobreza sem ideologia; os pobres são o centro do Evangelho.”

Essa é a diferença fundamental entre aqueles que colocam o homem no centro da preocupação política e os que preferem o capital e o egoísmo de um consumismo desenfreado. Não é a pobreza que produz a violência, mas a inexplicável desigualdade econômica e uma publicidade voltada para o consumo. Muita gente confunde o cristianismo que Jesus pregou com um sistema político que prega a igualdade social.

Na verdade, Jesus, em sua opção preferencial pelos pobres, buscou primeiro os apóstolos pescadores da periferia e sem significado na escala social; os cobradores de tributos, malvistos na sociedade judaica da época, porque representavam a opressão do imperialismo invasor; e as prostitutas, condenadas pela hipocrisia da sociedade. Terminou crucificado entre dois ladrões.

Essa companhia traduz uma mensagem, assim como uma vida de simplicidade, onde recomendava que não nos preocupássemos com vestimentas luxuosas: “Olhai os lírios dos campos, vede como elas se vestem, e nem Salomão com toda sua riqueza se apresentava tão bem”; fez jejuns e recomendou a purificação. Indagado por um jovem seguidor o que devia fazer para alcançar o reino dos céus, Jesus respondeu: “Vende tudo que tens e me segue”. Os primeiros cristãos partilhavam tudo que possuíam entre si, e essa é uma máxima da ideologia comunista.

Dante afirmou que o lugar mais quente do inferno será destinado aos omissos e insensíveis. A opção da Igreja pelos pobres é parte da gênese da doutrina cristã e, quando se afastou dessa caminhada, a Igreja errou, e os fiéis se afastaram dela. Hoje a Igreja retoma por seus pastores essa caminhada e para tanto deve fazer-se presente nos cárceres, nas favelas, acolhendo os pobres, na política, protegendo os fracos. Andando lado a lado com os excluídos, os perseguidos em razão de sua opção sexual, os socialmente oprimidos, nas comunidades, alimentando os famintos, nos hospitais sucateados, clamando por saúde, nas ruas, acolhendo os sem-teto, os sem-terra, os sem-família, as vítimas das drogas e da violência do Estado.

A partilha do pão é o gesto que caracterizou a mensagem de Jesus, e nós, que nos dizemos uma sociedade cristã, somente seremos reconhecidos como tal quando tivermos efetivamente partilhado todos nossos talentos e riquezas com os mais desvalidos, reduzindo essa enorme distância entre ricos e pobres. Assim, poderemos almejar a verdadeira pacificação sem armas.

Siro Darlan é desembargador do TJ e membro da Associação Juízes para a Democracia

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