Por bferreira

Rio - Frase e conclusão. O sujeito tem uma queda pela bebida. Queda vertical. Corre frouxo a comemoração pelos 25 anos do Prêmio da Música. O PIB (Patrimônio Imaterial Brasileiro) lota os salões da Hípica, todos pule de dez. Meu verdadeiro pensador carioca, Zeca Pagodinho, apertado entre holofotes e microfones, botafoguense clássico, escapa feito um Garrincha dos joões de plantão. A conversa pede duas taças. Uma penca de remédios ajuda o fígado da dupla. Cada um com suas doses. O assunto é bebida. Lembrei do Jaguar me dizendo que aguenta ficar seis meses sem tais líquidos. Após o susto na mesa, a justificativa: “Agora, só dia sim, dia, não”.

Zeca retribui: “Moa, fiquei 16 anos sem beber, mas quando completei 17 de vida, não parei mais...”
Alguém cita o craque Mussum: “Nos dias de ressaca o mestre pedia proteção à São Risal!”

Vida à toa, o samba troca os tamborins pelos risos ‘encuicados’ de um encontro carioca. Barril por barril, aposto minhas ações nos etílicos.

Os flagrantes de cada dia intimidaram os nossos ‘encostos’ permanentes. Filmam até um engasgo no caroço da azeitona. Já manjada, repito um desabafo: “Bebo pra ficar bêbado. Pra ficar bom, tomo remédio!”
Um tio por parte de pai, dedicado aos filhos e cervejeiro nato, gastava parte do salário subornando garçons de festas infantis. As bandejas só abriam o percurso depois de circular no canto escolhido por ele pra ser esquecido. No fim, beijava ousadamente a madrinha, a sogra do anfitrião até ser carregado pelo caçula da família. Cabras, como ele, sumiram na última cena das videocassetadas.

Na Rússia, Boris Iéltsin, primeiro presidente eleito democraticamente, foi pego trocando as pernas e cutucando senhoras nas mais sóbrias cerimônias diplomáticas. O atual, Putin, abstêmio feito um islão, invade a Ucrânia e nem pede o couvert.

Na verdade, quase extintos, os pinguços perderam o espaço no balcão. No câmbio com o pé de cana moderno de celular na mão, perdemos aquela frase solta no vazio da tarde, quando o fiel da birosca incorporava o filósofo do bairro, o testemunha da antiga vizinhança, a ronda carioca.

A memória batuca no tambor do Lilico: “É bonito, isso?”

Tenho sorte. Zeca ergue o braço pedindo outra garrafa. Assim como na oração à São Jorge, respiro: “Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia.”

A festa continua.

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