Rio - O martírio da Semana Santa está registrado em diversas obras sacras. No Rio de Janeiro, uma das mais representativas encontra-se junto ao altar-mor da Igreja de Santa Cruz dos Militares, na Rua 1º de Março 36, no Centro. Neste sentido, a manifestação artística mais conhecida é justo a do Mestre Valentim. Este criou, no âmbito do profano, o chafariz público da Praça 15, na qual ancorou a Família Real. Mas o maior artista do Brasil, em seu tempo, depois de Aleijadinho, deixou outras obras não apenas arquitetônicas, mas escultóricas, e revestimentos em diversas igrejas na cidade.
Na talha da capela-mor da Igreja de Santa Cruz dos Militares, série de ornatos faz menção à Paixão de Cristo. A cruz na qual foi crucificado, os três pregos, o torquês que serviu para removê-los, assim como o martelo. A agonia está exposta igualmente na escada, demonstrando, por um lado, sua retirada da cruz e, por outro, o sacrifício da subida aos céus. Ao lado disso, depara-se com a lança usada pelo soldado romano para transpassar suas costelas, assim como a coroa de espinhos, a vara e o chicote com o qual foi açoitado. O tormento prossegue com a esponja encharcada em vinagre que lhe deram para beber, além do saco de moedas de Judas, o traidor. Neste calvário fazem parte ainda a tabuleta com a inscrição INRI e o tecido que envolveu sua nudez, elementos que compõem a Paixão.
Valentin da Fonseca e Silva (1745-1813) nasceu em Minas Gerais, filho de um português com uma escrava, viveu até os 20 anos em Portugal, onde estudou artes, por conta de sua extraordinária aptidão.
O mulato começou a desenvolver o seu talento como assistente de entalhador na Venerável Ordem Terceira do Monte Carmo. A partir desse trabalho, o Vice-Rei D. Luis de Vasconcelos o chama para executar várias obras na capital. Mestre Valentim entrou para Irmandade dos Homens Pretos de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito e criou várias obras sacras em diversas igrejas do Rio de Janeiro.
Ronaldo Vicente Pereira é pintor e professor de História da Arte do IFRJ
