Por thiago.antunes

Rio - No passado, o Campo de Santana tinha como seu ponto culminante de festas e afluência a Festa do Divino Espírito Santo da Irmandade de Santana. A manifestação contava com o batuque dos negros, o colorido das roupas e toda a sorte de barraquinhas com lembranças, quitutes e jogos de azar, inclusive. O ponto máximo era a reverência ao Imperador do Divino, ocorrida em pavilhão de pedra e cal localizado onde hoje se encontra o Palácio Duque de Caxias, antigo Ministério da Guerra.

A solenidade contava com a presença do próprio vice-rei. Neste contexto, a autoridade instituída reverenciava o soberano aclamado nos braços do povo. Hoje o Campo de Santana vive movimento extraordinário também por conta de um fundamento religioso: a devoção a São Jorge. A igreja que abriga sua imagem localiza-se na confluência de dois pontos de grande movimento no Centro: o Campo de Santana e a Saara, tradicional centro de compras. A festa e a devoção, desde a alvorada, inundam de vermelho o Campo de Santana e de São Jorge Guerreiro e parte da Saara de toda gente.

As barraquinhas, os santos, as camisetas e as oferendas se misturam no sincretismo afro-católico. Salve Jorge! Salve Ogum!, nas cercanias e no interior da Igreja de Jorge Guerreiro e por todo o estado que lhe dedica um feriado. Outra presença, porém, se faz incômoda, e não só no dia das homenagens ao Santo Guerreiro: a sujeira — a macular diariamente o nosso sagrado chão.

As máculas à nossa morada prosseguem, com a existência de uma cracolândia, em um local onde não mais existem as emoções e alegrias da veneração ao Imperador do Divino, mas, sim, a comoção e a amargura daqueles que sucumbiram perante as drogas.

Jorge de Ogum, esteja ao nosso lado nesta batalha. E junto às ações do poder público. Mas não podemos ficar de braços cruzados. A aura de respeito e fervor deve persistir por todo o ano, pois nossa cidade é sagrada por ser nosso lar. Que o Campo de Santana, com sua eterna beleza, volte a ser das caminhadas, bem como das crianças entre patos, cotias, gansos, numa ciranda de paz.

Ivo Venerotti é professor colaborador do projeto Roteiros Geográficos do Rio da Uerj

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