Por thiago.antunes

Rio - Milagre é fenômeno aleatório extraordinário que foge às forças dos acontecimentos naturais. Tem em Deus o mentor imediato e mostra a soberania sobre as esferas da criação.
Na literatura econômica, é invenção dos economistas, pois na realidade trata-se de ‘fase’ ou ‘ciclo’ de prosperidade relativa do crescimento do produto (PIB) que marca épocas.

Mas muitos destes períodos não significam bem-estar social para a maioria da população — seja pela distribuição de renda ou pelos investimentos no ensino público e na saúde para os trabalhadores que não têm acesso à rede hospitalar privada.

‘Milagres’ denotaram o ‘boom’ econômico do PIB de vários países. O Japão na fase pós-guerra foi inserido como potência econômica depois da entrada maciça de capital americano para reparação do país, finda a Segunda Guerra Mundial — como forma de os EUA utilizarem o território japonês como base contra a expansão da onda comunista que se alastrou na região.

Os países que formaram o grupo dos ‘Tigres Asiáticos’ — Coreia do Sul, Taiwan e Hong Kong — se ergueram depois dos mesmos processos de revoluções e guerras. Optaram em sair do caos econômico com reformas de base na economia, tendo a educação universalizada como matriz básica para chegar ao topo do crescimento do PIB. Na Europa, a Alemanha teve seu ‘ciclo’ rotulado de milagre depois da Segunda Guerra, ao ser perdoada a sua dívida externa.

No Brasil, em 50 anos — 21 anos sob o comando do governo militar —, após o golpe de 1964, não ocorreu ‘Milagre Econômico’. O modelo desenvolvimentista do regime militar chancelado em todas as fases pelo Delfim Netto foi um fracasso nos eixos principais da matriz econômica — que gerou o crescimento médio de 9% ao ano no período de 1968 a 1974.

O modelo tinha tamanho e endereço certo. Estava alicerçado em crescer o ‘bolo do PIB’ sem distribuição de renda, voltada para expansão da estatização da economia e de proteção do capital da indústria nacional com financiamento do dinheiro dos bancos públicos. O lema era “exportar muito e importar pouco” — processo de substituição de importação.

As consequências do modelo ocorreram a partir de 1979: quebradeiras; endividamento externo; maxidesvalorização da moeda; o sanduíche; crescimento com inflação, recessão e o resultado cruel da chamada “década perdida” dos anos 80. No processo de transição democrática, esqueçam os cassinos com mesas de ‘open market’ de Sarney, mas salvem Itamar, FHC e Lula, os milagreiros da estabilidade econômica para o “Brasil de todos nós”.

Wilson Diniz é economista e analista político

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