Rio - Recente estudo publicado pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) informa que a Província de Quebec, no Canadá, é um dos poucos lugares do planeta — senão o único — onde a publicidade dirigida aos jovens de até 13 anos foi banida. A medida foi tomada há três décadas. A informação, que consta da publicação ‘Publicidade e criança: comparativo global da legislação e da autorregulamentação’, chama a atenção e aguça a curiosidade. Afinal, como seria viver num local sem nenhuma publicidade dirigida às crianças?
Tive a oportunidade de entrevistar uma mãe que viveu sete anos em Quebec, com seus três filhos, na época com 7, 8 e 15 anos. De volta ao Brasil, no início do ano, ela sentiu grande diferença. Não há consumo em Quebec? Sim, mas é diferente, prezando o conforto e a qualidade. Por aqui, ela afirma que há um consumismo desenfreado, efêmero e ligado ao status. E mais: um consumo fortemente ditado pela moda, pelos meios de comunicação, pela publicidade.
As crianças compram brinquedos? Sem dúvida, porém na perspectiva da qualidade, durabilidade e solidariedade. Feiras de trocas de brinquedos são incentivadas. Há festas infantis, mas regadas a frutas e saladas. E tecnologia — celular, tablets, computadores pessoais — não é ‘brinquedo’ de criança. Muito menos entra na sala de aula. Perguntei se a infância de seus filhos foi prejudicada pela falta de publicidade. “Imagina”, me respondeu.
Pode-se achar que esta ‘cultura’ nunca vai chegar ao Brasil. Talvez a minha geração não presencie, mas este é um processo que aos poucos vai se firmar. Seja por uma conscientização da própria sociedade — torço para que isso aconteça cada vez mais — sobre o repensar das atuais práticas de consumo que não, não dialogam com a sustentabilidade, saúde, solidariedade, ética e direito. Seja por uma imposição dos governos, a partir de legislações específicas.
Ações de certa forma legítimas quando bem fundamentadas, como a questão da obesidade infantil. Seja por uma nova era das empresas que sabem, internamente, que terão que repensar suas estratégias e reposicionamento de marcas. Elas não têm outra saída se quiserem se manter vivas. Seja por um colapso de todo um sistema que propicia, ao fim e ao cabo, a violência, ganância, competitividade, injustiça e a autodestruição do planeta. Afinal, o ter é mais importante que o ser, nos dias de hoje.
Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Educação e Mídia