Por felipe.martins

Rio - O Brasil perdeu feio da Alemanha na tarde da última terça-feira por 7 a 1. Mas, na mesma tarde, também perdeu Plínio de Arruda Sampaio, histórico militante das causas sociais e em prol dos excluídos. Defensor das liberdades, teve os direitos políticos cassados após o golpe empresarial-militar de 1964. Foi para o exílio e trabalhou na FAO, organismo da ONU que se propõe a eliminar a fome no mundo.

A primeira vez que o ouvi falar da fome no mundo fui conferir as informações e fiquei estarrecido, pois a falta de comida mata mais que todas as epidemias e guerras. Mas, como acentuava, não falta produção de comida. A produção mundial de alimentos é superior à capacidade humana de consumo; o problema é o que se faz dela. Não se destinam os alimentos produzidos aos pobres, mas ao lastro para o capital financeiro e especulativo. Além disto, boa parte da produção de grãos, soja ou milho, se destina à alimentação de gado. É a alegria do agrobusiness, em prejuízo da alimentação humana.

Plínio se notabilizou por sua cruzada contra a fome, nunca abriu mão das suas ideias e lutou intensamente pelas liberdades e pela justiça social. Nas eleições de 2010, disputou a Presidência da República e, embora não fosse um dos candidatos que a mídia escolhera para polarizar as eleições, que a cada dia têm maior sentido plebiscitário, se impôs pela sua trajetória e esteve em todos os debates para os quais a mídia convocara os ‘quatro grandes’.

Embora com o mesmo 1% dos votos, tal como os demais candidatos que a mídia despreza e chama de “nanicos”, Plínio parecia um gigante. Um velho gigante, tanto na idade, mais de 80, quanto na sabedoria e compromisso com o povo. Plínio olhava o mundo de cima, mas sem soberba, como quem sabe enxergar as coisas da vida. Perto dele, a Copa é uma pelada, e os 30 bilhões de reais gastos na sua realização seriam apenas recursos destinados a construir escolas e hospitais ou ajudar a implementar a reforma agrária e a agricultura familiar.

Com dinheiro federal, decorrente de empréstimos a fundo perdido concedidos pelo BNDES, o Estado e o Município do Rio de Janeiro — a serviço da Fifa — violaram direitos, suprimiram liberdades, adotaram política higienista, expulsaram moradores de rua para lugares distantes, derrubaram casas, removeram comunidades e militarizaram as políticas públicas. Até o histórico prédio do Museu do Índio correu o risco de demolição a pretexto de solicitação da Fifa, sob a complacência do Judiciário; salvou-o a mobilização das populações originárias com o apoio da sociedade.

O Brasil perdeu a Copa em casa. Mas, para sua realização, houve escancarada violação aos direitos constitucionais. Que a taça se vá! As políticas implementadas para sua realização é que deveriam nos fazer tristes ou dispostos a construir realidade diversa, tal como pretendida pelo Plínio.

João Batista Damasceno é doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito

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