Rio - Ele ficou três dias sem ir à creche e, quando voltou, estava entrando para almoçar, deu de cara com ela, Marina, saindo do banho no colo da outra professora. A mãe olhou para a menina, olhões expressivos de desenho japonês, pele tão alva quanto a do seu branquelinho, e falou: “Ah, então você é a melhor amiga dele!” Séria, a bebezinha desviou o olhar para o menininho, ambos com seus 10, 11 meses, e ele abriu o seu melhor sorriso, esticando o bracinho para ela, mostrando toda sua banguelice, ao som de “ohhhss” e “ahsss” das testemunhas, encantadas.
Soubera semanas antes que eles estavam próximos, quando a mãe comentou: “Nesta idade, as crianças têm mais apego aos objetos, né?” Uma cara de espanto da interlocutora, pasma com sua sapiência de internet, seguida da voz da experiência: “O quê? Eles prestam atenção uns nos outros, sim. Precisa vê-lo com Marina. Botamos os dois para almoçar lado a lado, um quer roubar a colher do outro. Daqui a pouco, estão de mãos dadas. Quando ela vê que está de mão dada com ele, o empurra. Quando ele vê primeiro que estão de mãos dadas, ele que empurra, tirando a mão. Quando ela está num brinquedo, ele vai atrás e fica perturbando até ela sair. Quando é ele que está no brinquedo, ela fica em cima para ele sair. Quando não consegue, vai para morder, que ela já está nessa fase. Aí a gente acode correndo!”
A história faz refletir sobre como são genuínas as relações humanas, desejoso e desejado. Quem demonstra querer e depois recua, esperando para analisar, instintivamente, se a recíproca é verdadeira. Mas logo se sabe, ao primeiro olhar, que a união existe, que a coisa certa é desejar e ser desejado, uma relação de troca imediata. Se fosse possível, é como se ação e reação acontecessem juntas. E será que não é? Apelo para a Wikipedia, que me explica melhor a Terceira Lei de Newton ensinada na escola: “Se um corpo A exerce uma força em um corpo B, o corpo B simultaneamente exerce uma força de mesma magnitude no corpo A — ambas as forças possuindo mesma direção, contudo sentidos contrários (...) As forças na natureza aparecem sempre aos pares, e cada par é conhecido como um par ação-reação. Não há na natureza força solitária, ou seja, não há força (real) sem a sua contraparte”. Como não prestei atenção a isso antes?
Estou falando de sintonia. É claro que dá para tentar gostar, olhar e ver de novo, dar segunda chance ao primeiro olhar quando ele não detectou de cara o objeto-par. Mas quando acontece naturalmente é emocionante. Ou seria física?