Rio - Arrisco subir a pé a Rua Candido Mendes, curvas e árvores, até Santa Teresa, mas sou aconselhado pelo gari da região:
— Cuidado que estão assaltando geral!
Entendi. Acabou a Copa.
Concluí, esbarrando num menor dormindo na esquina da Glória, que a vida nossa de cada dia pede passagem.
Os botequins, sem a presença dos hermanos, discutem a lanterna do Flamengo, as pernas da vizinha, confidências rotineiras.
— Rapaz, falei pro médico: “Eu sei que é bom uma bebidinha de vez em quando, mas todos os dias é bem melhor!”
A feira livre nos sinais monta o tabuleiro.
Limão, morango em caixa e fruta do conde com desconto no cruzamento do Rua de Santana e correcorre nas cercanias da Central. O guarda fecha os olhos na saída do colégio, trânsito parado atrás da van pintada em duas listras:
— Bangu!Bangu!
O gerente rabisca o cardápio aos preços de origem.
Penso no pagode da Jovelina ‘Sobrou pra mim o bagaço da laranja’, enquanto o taxista poliglota resmunga em carioquês que a corrida é pequena, desliga o ar no inverno bronzeado e só aceita receber trocado:
— Comecei agora!
As bandeiras vermelhas não são chilenas, nem suíças feito um avatar de hospital. Rubras, se manifestam na Candelária invertida.
Não se ouve nos elevadores um “Imagina nas Olimpíadas”, o mantra pessimista, nem a ilusão de um pódio dourado, medalhas no peito vazio de esperanças.
A crônica sai com a cara de uma Kombi argentina após a derrota: empurrada.
Ainda choro em volta do Maracanã que não pisei.
É preciso achar graça dos palpites esdrúxulos nos bolões enlouquecidos.
Prever um futuro que já se anuncia brabo de russo é sofrido, mas contar com o ovo na galinha, nunca mais.
A ânsia de um coloquial me remete à Granja, onde o ruço deixava inviolável as táticas da vitória.
Na verdade, o poleiro era mais embaixo.
Nadei com a nau dos outros, ri antes da piada acabar.
Agora, resta mudar o estilo borboleta. Vou de salto em distância, com todos os obstáculos e cones, aprumar a simpatia para os próximos campeões.