Por adriano.araujo

Rio - A nomeação de Gilmar Rinaldi para o cargo de coordenador de seleções é uma espécie de demonstração de sinceridade, uma quase confissão. Ao designar um profissional que até a véspera dedicava-se ao mercado de compra de venda de jogadores, a CBF mostra que não quer enganar ninguém. Seria injusto de lançar dúvidas sobre o comportamento futuro do ex-goleiro, mas escolhas são também simbólicas, e a dele tem o peso de uma assustadora declaração de princípios da entidade que é presidida pelo malufista José Maria Marin.

É duro, mas as lambadas aplicadas no Brasil por Alemanha e Holanda não deverão mesmo representar qualquer mudança no futebol brasileiro.

Apesar de representar o país e de usar suas cores, bandeira e hino, a CBF é uma entidade privada, não recebe dinheiro público. Reconhecida pela Fifa como nossa única representante, está no topo de uma pirâmide formada pelas federações regionais que, por sua vez, estão assentadas nos clubes, não apenas nos maiores, e em ligas municipais, como, no caso do Rio de Janeiro, a Mageense e Macabuense.

Como em todos os estados, essas entidades tendem a representar, principalmente, os interesses de seus dirigentes, o desenvolvimento do futebol não costuma estar entre suas prioridades. O modelo foi feito para não dar certo; melhor, existe para privilegiar aqueles que dele se beneficiam e que lutam para manter tudo como está.

O governo não pode se meter nos clubes, mas tem como induzi-los a adotar posturas mais responsáveis. Seu trunfo são as bilionárias dívidas acumuladas por times como Botafogo e Flamengo junto à administração federal. Como se trata de dinheiro público, de todos nós, é preciso cobrá-lo e, ao mesmo tempo, estabelecer obrigações para o necessário parcelamento dos débitos.

Pressionados a atuar de maneira mais profissional, os clubes — que nunca foram exemplos de gerência — poderão se ver obrigados a usar sua popularidade para forçar mudanças na estrutura do futebol. Na hora do pega pra capar, a própria sociedade decidirá se ficará ao lado dos grandes times ou da estrutura que os vampiriza.

No mais, chega a ser patética a possível volta de Dunga ao comando da Seleção. Pior ainda é o discurso moralizador que tende a justificar sua escolha. Esse tipo de conversa é incompatível com a tradição da CBF, entidade há muitas décadas necessitada do tal choque de ordem.

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