Por bferreira

Rio - Na pracinha a regra é clara, e aprendi logo no primeiro dia. “Aqui os brinquedos não têm dono, não. É tudo de todo mundo. Ele pode brincar”, ensinou uma babá. Até porque criança está quase sempre de olho no brinquedo ao lado, em suas cores e formas diferentes dos que está acostumada. Caminhãozinho com caçamba é um sucesso entre meninos e meninas, que adoram encher de ‘carga’ (areia) para depois esvaziar.

Tudo indo bem até que uma mãe que nunca aparece na área começa a mandar a babá guardar os brinquedos do seu filho, desesperada, quando vê outras crianças encostando nas pás e baldes do seu bebê. Depois, provavelmente ainda vai estranhar se o garotinho tiver problemas de socialização. Saber dividir é importante e é difícil até hoje mesmo para os generosos.

No início, eu (que sempre fui um exemplo de socialização desde o jardim de infância, segundo relatos de meus pais e professores) ficava num canto com o neném, na minha, que foi o que eu aprendi a ser depois de adulta. Observando de fora, não fazendo questão de ser incluída na marra. E, de leve, percebi que não era o melhor, em prol da inclusão da criança. Pracinha é festa, lugar de ver e ser visto. O melhor é ser natural, entrar, falar, se aproximar, compartilhar, para usar um verbo muito usado hoje. E, assim, deixar as crianças irem se conhecendo, sem frescura, sem você mandar em nada, até porque a pressão externa só prejudica o aprendizado. É muito interessante observar uma pessoa de meses construir o seu conhecimento através de suas próprias descobertas, de seu contato com o mundo e com o manuseio e observação dos objetos. É esta, aliás, a raiz de uma linha da educação, o construtivismo, um método de ensino em que o aprendizado é “construído” pela pessoa a partir de suas vivências.

Educar é muito difícil. Preparar alguém para enfrentar a vida na esperança de que seja bem-sucedido num mundo “vendido” como de muitas possibilidades, mas estas cada vez mais escassas, é um aprendizado para uma pessoa já vivida também, é como começar do zero. Refletir e ficar atento às necessidades do outro e ao que o faz feliz é um bom começo. Não partir de pensamentos prontos, querendo apenas defender o seu como fez a mãe da pracinha, é um bom início desta missão. O pior que poderia acontecer seria alguém roubar o seu brinquedo. E, sim, isso mostra um lado ruim das pessoas ao qual estamos sujeitos. Mas o ideal é tentar agir sem defesas e esperar o melhor, a fim de incentivar a percepção dos valores. Não é receita pronta, apenas uma intuição.

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