Por bferreira

Rio - Paracambi e a vizinha Japeri estão a aproximadamente 70 km do Centro da cidade do Rio. Entretanto, os dois municípios da periferia da Região Metropolitana são separados por muito mais do que os 6 km de distância entre as duas estações que levam seus nomes. Para Paracambi, a SuperVia opera com trens e horários não convencionais, o que faz com que poucas pessoas se disponham a encarar cotidianamente tamanha variabilidade. Japeri, por sua vez, é atendida por ramal regular, com intervalos de 11 minutos nos dias úteis, segundo a concessionária. Dados do IBGE para o Censo de 2010 revelaram que os japerienses sofrem com o maior tempo médio de deslocamento casa-trabalho-casa do Brasil: 142 minutos, ou quase duas horas e meia por dia. Já em Paracambi, aqueles que vão para seus locais de trabalho e retornam para o lar diariamente demoram, em média, a metade: 36 minutos por sentido.

Esta discrepância ocorre porque existem mais japerienses trabalhando na capital (44%) do que no próprio município de residência (42%). A dissociação entre a moradia e o emprego é a responsável por tão longos e sofridos trajetos. Por outro lado, em Paracambi, a menor acessibilidade ferroviária resulta em duas alternativas perversas: a informalidade, que no município atinge 45% dos postos de trabalho, e a inatividade, na qual se encontra quase a metade da população acima de 14 anos. Este último dado traduz a ‘decisão’ dos habitantes de não participar do mercado de trabalho, nem atuando nem buscando emprego, a qual, forçosamente, pode estar atrelada à precariedade das opções de mobilidade urbana.

A necessidade de sair do município de moradia para trabalhar na capital é a realidade de cerca de dois milhões de trabalhadores da periferia do Grande Rio, o que compromete tanto o desenvolvimento local como a qualidade de vida nas metrópoles. E isto não se resolve pela construção de mais estações ou mais estradas. Descentralizar os investimentos, gerando emprego e capacitação nas periferias do estado, é o que os governos podem fazer para mudar esse cenário. As empresas também podem contribuir, propondo jornadas e horários diferenciados e inteligentes para seus funcionários, que combinem o trabalho a distância e a escolha de utilizar os contrafluxos no trânsito, por exemplo. À sociedade civil cabe cobrar e sugerir soluções mais virtuosas do que as que estão em prática. Não temos tempo a perder.

Vitor Mihessen é economista e associado da Casa Fluminense

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