Por bferreira

Rio - O que é uma meia verdade? É uma frase inteira que na metade vira mentira? É contar alguma história que não é 100% bonita e camuflar as partes feias? É uma mentirinha sincera? É deturpar? O mundo está cheio de meias verdades. De opiniões formadas sem que se leia até o fim, com conclusões tiradas de memes da internet, de perfis do Facebook, de verdades prontas pela metade.

O perigo do mundo atual consiste de meias verdades. Opinião cada um tem a sua, sem que para isso seja necessário partir para a agressão física. Quem não tem inteligência usa força, diz o ditado.

Há questões históricas quase indissolúveis, como a guerra entre Palestina e Israel, em que os fatos doem, e que implica em alguém ceder, mas, por duas verdades, ninguém cede. E chega-se a um ponto: é possível ter duas verdades? Para palestinos, aquele território é deles, para israelenses, deles. Se Israel tem um aparato de guerra e força militar e os usa contra civis indefesos sem Exército não é a questão que motiva essa tragédia e, sim, as verdades de cada povo. Por isso, é tão difícil entender sem tomar partido.

No Brasil, avanços de pensamentos e esclarecimentos existem em parte pela ação de bons jornalistas. Se o povo sabe e acompanha as manifestações nas ruas desde junho do ano passado é porque isso é documentado. Me impressionam as recentes agressões a jornalistas que foram às ruas cobrir o tema, como um fotógrafo do DIA que teve o equipamento quebrado e um cinegrafista que foi arrastado ao registrar a saída de ‘ativistas’ da prisão. Essas pessoas são excelentes profissionais, gente honesta que estava lá de plantão fazendo o seu trabalho, que era registrar para a história aquele momento.

Quando o Sindicato dos Jornalistas promove um encontro com os pais dos presos e os jornalistas presentes mal conseguem falar e ainda são atacados, isso vira caso parcial, uma meia verdade. A impressão que tenho já há algum tempo é que ninguém lê nada, apenas grita palavras de ordem. Entendo que é “contra o sistema”, mas não pode ser contra a pessoa física, que também tem as suas opiniões políticas pessoais, que devem ser respeitadas sejam elas quais forem. A verdade é inteira, não tem só um lado. É preciso cuidado e calma para não cometer uma injustiça e colocar tudo no mesmo saco.

Vivemos numa democracia, que me permite ter a minha opinião e poder expor, que permite que apurações sejam feitas, que conclusões precipitadas não sejam tomadas. Protestar não é crime. Matar é crime, ferir inocentes é crime, agredir é crime. As últimas agressões a jornalistas lembram muito um outro lado da história do Brasil, um lado que ninguém deveria esquecer. Quando essa história é usada como referência para deturpar a verdade, isso é grave. E dizer que estamos numa ditadura é uma mentira inteira.

E-mail: karlaprado@odia.com.br

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