Por bferreira

Rio - Definitivamente o Rio não fica com cara de Rio quando encoberto pelas nuvens e dominado pela chuva e frio. Não é só pelo trânsito que piora e muito. Nem só por conta do tempo nublado que esconde as belezas da cidade. Também não é só por conta das montanhas encobertas ou da falta da luz do sol. Fica um clima esquisito mesmo, de uma certa tristeza ou desânimo no ar. Nas cidades onde o inverno é mais rigoroso as pessoas ficam até mais bem vestidas e bonitas nesta época do ano. No Rio, não. Por aqui os casacos não combinam com o resto das roupas e os moletons usados com as bermudas reforçam o estranhamento com as temperaturas baixas. A volta do sol faz o Rio ficar mais bonito, nos enche de orgulho e até torna menos difícil a convivência com a violência, com os desmandos e com as notícias ruins. A mata em frente à minha janela fica mais bonita, os barulhos dos seus moradores nativos anunciam que o sol voltou, que o tempo melhorou e me dá uma sensação de que as coisas também vão melhorar.

Pena que uma rápida olhada em torno de mim e nas redes sociais me traz de volta a uma realidade cada vez mais estranha e criminosa. A favela, a maior do Rio, que também mora ao lado, cresce a olhos vistos, com edifícios mais sólidos em vez de barracos, sem respeitar leis nem ordem, invadindo ainda mais a mata, promovendo queimadas, abrindo clareiras e se expandindo a olhos vistos e avisos dados. O pessoal da Barra da Tijuca e Jacarepaguá também cansa de alertar as autoridades sobre o crescimento das construções ilegais por lá também. Mas quem se importa? Por onde andam as chamadas autoridades, aquelas que podem acatar as denúncias e mudar o rumo da história? Os defensores do meio ambiente percebem e reclamam.

Todo mundo vê. Mas quem deveria se manifestar não toma atitude. A última novidade é o crescimento da comunidade que fica á margem da Lagoa da Tijuca, numa área de mangue. Na Bacia do Itanhangá e na baixada de Jacarepaguá acontece o mesmo avanço ilegal. O biólogo Mario Moscatelli mostra sua preocupação com o crescimento de um lixão vertical no Morro do Banco, perto da Cachoeira do Itanhangá. O Rio da região está virando valão de esgoto. Claro que falta habitação na cidade assim como falta saneamento básico, transporte e tudo o mais. Mas falta, sobretudo, fiscalização. Falta atitude. Falta planejamento. Falta vontade política. Sobram alertas, avisos e percepção de que é preciso evitar outra tragédia que nem a do Morro do Bumba. Não podemos esperar acontecer. As comunidades crescem todo dia, não adianta fingir que não se vê porque, mais cedo ou mais tarde, vão explodir. É uma questão de tempo.


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