Por bferreira

Rio - Ótima a ideia de homenagear Millôr na Flip deste ano. Imagino o impacto que deve ter causado no público, na maioria de jovens, que lotou a cidade. Confesso que eu mesmo — apesar de termos convivido 60 anos — descobri muita coisa que não conhecia da sua caudalosa produção.

Deveriam bisar a homenagem no ano que vem e ainda sobraria Millôr, tão vasta e variada é sua obra. Não me perguntem onde ele achava tempo para fazer tudo aquilo, seu dia precisaria, no mínimo, durar o dobro do nosso. Acordava cedo, andava do Leblon ao Arpoador — e voltava —, jogava frescobol com o fotógrafo Yllen Ker, seu parceiro mais constante. Gravatá herdou as raquetes do Millôr; hoje estão — relíquias preciosas — devidamente protegidas atrás do vidro, numa moldura pendurada na parede. Como sempre me perguntam, vou responder de uma vez por todas: não, ele não foi o inventor do frescobol. Jogava-se com raquetes de madeira e uma bola de tênis. Quando apareceu na Praia de Ipanema, a bola era presa à raquete com um elástico. A bola ia e voltava para a raquete, numa, digamos, masturbação tenística. Até que alguém — não foi o Millôr — teve a ideia de arrancar o elástico e virou tênis de praia, mas sem quadra, sem a bola tocar no chão porque não quicava na areia.

E não havia quadra, como no tênis, nem contagem de pontos, ou seja, era um jogo sem vencido nem vencedor. Millôr (que foi um dos primeiros praticantes do esporte) dizia que esse era o mérito do frescobol. Tenho minhas dúvidas; acho que ele simplesmente não suportava a ideia de perder, seja lá no que fosse. Eu detestava, como a maioria do pessoal da praia. Levei muitas boladas enquanto acompanhava o doce balanço das garotas de Ipanema a caminho do mar, muito antes do Tom Jobim.

Mas não fica nisso o histórico esportivo de Millôr. Ele se gabava de ser campeão mundial da pesca do atum. A história não foi inventada pelo Millôr; ele foi, garantia aos ouvintes, protagonista. Seguinte: Um amigo rico — esqueci o nome — convidou-o para ser seu parceiro no torneio, que ocorreria no Canadá. E lá foi a dupla, defendendo as nossas cores, concorrendo com participantes de vários países. Quando o tempo do torneio acabou, ninguém tinha fisgado sequer um atum. De maneira que todos voltaram sem derrota para casa. E assim o guru do Méier (e meu) manteve sua invencibilidade. Como dizia Ripley, acredite se quiser.

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