Rio - Estive na encantadora Belém, no Pará, no mês passado. Ministrei curso, participei de banca de mestrado e, como ‘padrinho’, assessorei os Roteiros Geoturísticos da UFPA pelas ruas da capital paraense. “Quem foi ao Pará/parou”, e eu me deixei enlaçar por deliciosos frutos, saborosas comidas e uma cidade que guarda semelhanças com o Rio de Janeiro, por conta da cordialidade de seu povo.
Mais do que isso, a arquitetura, tal qual a da urbe carioca, guarda marcas de tempos passados com fortalezas, símbolos e outras edificações construídas pelos portugueses na busca incessante e vencedora da conquista da Amazônia. Destaque especial para o interior da Catedral de Nossa Senhora das Graças, absolutamente inigualável.
No rastro do ‘boom’ da borracha, a capital do Pará, munida de muita riqueza, cresceu no ritmo da Belle Époque com magníficas construções, como o Teatro da Paz, inaugurado em 1878, anterior, portanto, ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Seu belo prédio está em uma aprazível e gigantesca praça, como outras tantas de seu espaço urbano banhado pelo Rio Guamá e pela Baía de Guajará. Mais recentemente, Belém se espraia com edifícios-torres de 30 ou mais andares copiando o modelo, modernismo e praticidade dos Estados Unidos.
Na esteira da restauração dos lugares do passado, Belém reestruturou fortes e os transformou em centros de visitação. À noite, casais de todas as opções sexuais namoram lado a lado, em um desses pontos, chamado de Feliz Lusitânia, no seu todo, muito bem policiado.
Adiante, as docas do porto restauradas exibem glamour chamativo para turistas e moradores, com restaurantes, salões para eventos e ‘palcos/música no ar’. Nessa galeria, podem ser agrupados outros lugares de grande notoriedade e frequência, como o Ver o Rio, o Mangal das Garças repetindo, na forma e de maneira admirável, cultura indígena que se perpetuou na cidade de brancos, mestiços, indígenas e negros.
Os igarapés, braços de algum rio ou canal, ruas plenamente arborizadas com mangueiras, bem como o calor e a chuva forte e passageira são outros elementos característicos de Belém.
Sob as bênçãos da Senhora de Nazaré, o assunto resvala para o Círio, manifestação católica que transcende sua assombrosa procissão. Não há como deixar de ouvir referências ao seu símbolo maior, das missas, da corda, do almoço em família com maniçoba após a passagem do cortejo. “... Eu sou de lá / onde o Menino Deus se apressa pra chegar / dois meses antes já nasceu fica por lá / tomando chuva, se sujando de açaí ...”. Eu sou de lá, cantou Fafá de Belém para Francisco na Jornada Mundial da Juventude Católica, em Copacabana. O carioca que visitar Belém certamente se envolverá transformando-se num parioca.
João Baptista Ferreira de Mello é coordenador do Projeto Roteiros Geográficos do Rio da Uerj