Por adriano.araujo

Rio - São fortes os rumores de que o senador Aécio Neves estaria prestes a abandonar a corrida sucessória, com o objetivo de permitir uma vitória de Marina Silva ainda no primeiro turno. O candidato do PSDB teria se sentido desprestigiado com o puxão de orelha que levou em público do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Liderança maior dos tucanos, FHC recomendou a Aécio que reduza o tom de suas críticas a Marina e centralize o fogo na presidenta Dilma Rousseff. Assim, deixa a porta aberta para uma composição do PSDB com PSB no segundo turno, quando a oposição pode marchar unida contra a candidata do PT. Boataria à parte, ficou claro que a cúpula tucana, dominada por São Paulo, já não aposta um tostão nas chances do neto de Tancredo Neves. Mas esse é motivo suficiente para Aécio desistir do páreo?

Tudo indica que não. Aécio Neves não entrou nesta eleição para ganhar. Sabia que suas chances de impedir a reeleição da presidenta Dilma Rousseff eram pequenas.

A estratégia é marcar presença, tornar-se conhecido e preparar o terreno para 2018 — por sinal, este também era o jogo jogado pelo ex-governador Eduardo Campos, interrompido tragicamente pelo acidente aéreo em Santos. As pesquisas mostravam enorme vantagem de Dilma sobre os dois, com força para decidir o pleito no dia 5 de outubro. Na hipótese de segundo turno, a diferença também era grande sobre Aécio e maior ainda sobre Eduardo Campos. Sem ilusões, os dois opositores de Dilma estavam de olho na próxima eleição. Com Aécio em posição mais confortável, pois seu mandato de senador vai até 2018.

Como disse o próprio candidato do PSDB, “eleições se perdem, já perdi eleições e aprendi muito com isso”. Mas, para quem tem ambições políticas, é importante não dar sinal de fraqueza.

Uma desistência, a esta altura, causaria profunda decepção aos eleitores de Aécio. E não são poucos. Se o tucano confirmar os atuais 15% das pesquisas de opinião, sairá das urnas com mais de 20 milhões de votos, do universo total de 142,4 milhões de eleitores. Terá, portanto, um belo cacife para se sentar à mesa da sucessão em 2018.

Mais conhecido em todo o país, Aécio chegará forte ao futuro desafio, independente dos oponentes (fala-se muito, por exemplo, na volta do ex-presidente Lula). Na pior das hipóteses, terá que disputar a indicação do PSDB com o governador Geraldo Alckmin, que está perto de se reeleger.

Mas hoje a pergunta é: faz sentido Aécio renunciar para ajudar Marina? A considerar as pesquisas sobre o segundo turno, a resposta seria sim. Observa-se uma transferência maciça dos votos no tucano para a ex-ministra. Na última pesquisa do Ibope, Marina sobe de 31% para 43%, enquanto Dilma vai de 39% para 42%. Ou seja, enquanto a primeira cresce 12 pontos, a segunda ganha apenas 3 pontos de um turno para o outro.

Mas, se Aécio anunciasse a desistência, seus votos iriam todos para Marina? Não é certo. O tiro pode sair pela culatra. Dilma está à frente nas pesquisas do primeiro turno, tem a TV a seu favor e atribuiria a desistência de Aécio à fraqueza de seus adversários. A grande beneficiada seria a presidenta, e não Marina. A presença de Aécio dá a certeza de que haverá o segundo turno entre Marina e Dilma. Quem vai ganhar é outra história.

Você pode gostar