Por bferreira

Rio - Eu me preservo por não te dizer o que penso.

A frase deve ser repetida mentalmente, como mantra, em ‘n’ situações. Principalmente naquelas em que não vale a pena argumentar, sob o risco de insistir numa discussão improdutiva, quando o interlocutor não está aberto a ouvir, nem mudar de opinião. Isso não é ser covarde. É não dar murro em ponta de faca.

Pensei no mantra ao descer de um táxi antes do meu destino, por perceber que nada que eu falasse adiantaria para que o motorista de 70 anos, agressivo e intolerante, mudasse de opinião. Ele esbravejou seu ódio contra psicólogos e gays em minutos. Na impossibilidade de fingir que não escutava, tentei entender o motivo de tanta revolta. Ele prometeu que, se entrasse um psicólogo no carro, seria morto, e afirmou que eram todos pederastas. Revelou que, ao tentar resolver um problema de disfunção erétil na juventude, um analista disse que ele deveria se deitar com outro homem. Até hoje, ele não só não se deitou com outro homem, como não resolveu seu problema. Mas passou a nutrir um ódio profundo por psicólogos e gays. Se o seu problema seria resolvido da forma indicada, não faço a menor ideia. Mas pensei: adianta debater com este senhor? Não vou perder meu tempo dando opinião. Infelizmente, tais crenças estão enraizadas na formação do caráter, eu não resolveria aquilo em cinco minutos. Só me agrediria mais. Pois não entendo o que um tem a ver com a sexualidade de outro. Isso é uma questão de foro íntimo. “O que uma pessoa faz entre quatro paredes não é da sua conta”, ensinou mamãe. O que importa é o respeito.

Sim, desci do táxi. Estou cansada de ouvir questões que deveriam ser matemáticas tratadas de forma subjetiva.

Racismo. Frequentemente abordado como opinião pessoal. Tão certo quanto dois e dois são quatro é que uma pessoa é uma pessoa. “Somos todos homo sapiens”, li outro dia. O que vai qualificá-la vem de atitudes produzidas, comportamentos, etc. Se é branca, negra, japonesa, se o tom da pele é diferente, mais claro, mais escuro, o que muda? Não faz o menor sentido, é como se fizessem julgamento em cima de um bronzeado. “Você está vermelha como um tomate, por isso não podemos aceitá-la nessa escola”.

Sou neta de avô negro com índio, casado com uma grega branca, transparente. Todos nós brasileiros somos misturados e deveríamos compor um país exemplo contra o preconceito racial, mas não é o que acontece... Gente chamando jogador de “macaco” em 2014. Incompreensível. Daqui a pouco acordam e resolvem aniquilar as baixinhas. Serei assassinada injustamente. É como o nazismo. Intolerância e preconceito são atrasos de vida muito grandes, não podemos admitir.

E-mail: karlaprado@odia.com.br

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