Por bferreira

Rio - O Rio de Janeiro, não faz muito tempo, era inundado pela alegria incontida e o corre-corre das crianças no dia 27 de setembro, dedicado aos santos gêmeos Cosme e Damião.

“Ali tá dando doce” era a senha para que em festivo e desenfreado pique a garotada chegasse a esta ou àquela casa. Católicos, umbandistas e candomblecistas pagavam promessas ou simplesmente distribuíam saquinhos de doces para a garotada, muitas vezes frutos de cotas entre parentes, amigos e conhecidos.

A verticalização da cidade e a abominável condenação dos grupos neopentecostalistas, demonizando os doces, transformaram a data, desconcertantemente, não reluzindo mais com a intensidade de outrora.

Na biografia dos santos, consta que o pai de Cosme e Damião foi um mártir sacrificado por aderir ao cristianismo. Com efeito, os filhos, seguindo a mesma fé com perseverança, ao encontrar em Jesus Cristo o mesmo inabalável motivo da existência, curavam os doentes com o saber da medicina e as orações que invocavam implorando a salvação do enfermo. Torturados e decapitados, foram enterrados juntos, possivelmente, entre os anos 287 e 300. Seus outros três irmãos, por conta da fé, tiveram igualmente o mesmo dilacerante fim.

No Rio, a Paróquia de São Cosme e São Damião encontra-se na Rua Leopoldo, no bairro do Andaraí, a qual oferece os trabalhos de pastorais e catequese para pessoas de todas as idades, bem como creche comunitária aberta para 150 crianças dos 4 meses aos 4 anos, mantendo uma tradição entre os devotos dos santos em acolher crianças.

Seja como for, cabe lamentar que a intolerância religiosa impere e sobrepuja uma das festas mais lindas e espontâneas que o Rio viveu através de diversas gerações. Em contraponto ao abominável “não coma este doce porque é do demônio”, é preciso que ecoe um grito de fé para ingênuas criaturas: “O doce é da Luz, é dos santos de Deus.”

João Baptista Ferreira de Mello é coordenador do Projeto Roteiros Geográficos do Rio da Uerj

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