Por bferreira

Rio - Nunca, na história recente deste país, se brigou tanto. Estamos vivendo uma guerra onde a negação do talento do outro, a busca da desqualificação do outro tomou proporções nunca vistas. É um momento de implicância, onde se ataca fisicamente ou se bloqueia, virtualmente, o outro sem dó nem piedade. Não sou contra as divergências e diferenças, nem há como querer que sejamos todos iguais na vida ou mais especialmente nesta semana ou nestes três ou quatro dias que faltam para as eleições.

Mas é preciso ter um pouco mais de alma, ou ter um pouco mais de calma. Na segunda-feira teremos que juntar os cacos para sobreviver ou para amadurecer, para viver e para voltar a sonhar, ganhe quem ganhar. Mas ainda somos muito inexperientes, muito primários. Ainda brigamos, rompemos, xingamos e ofendemos quem pensa diferente da gente. Claro que não descobri isto nesta campanha eleitoral. No nosso dia a dia, desde sempre, tem sido assim. A tolerância não é o nosso forte .

Não é assim no Oriente Médio, não é assim no Campeonato Brasileiro, não é assim neste momento eleitoral. Mas está errado tanto lá como aqui. Eu sei que parece óbvio. E é. Mas a tolerância tem que ser a nossa palavra de ordem. Assim como não é razoável, o clima de guerra instalado neste outubro, não é aceitável que torcidas de times de futebol se matem a caminho dos estádios. Vi na TV um torcedor do Santos dizer que a sua torcida não achou necessário pedir proteção policial para ir ao jogo contra o Palmeiras. E deu no que deu, com apedrejamento e mortes de jovens torcedores. E não deveria ser normal cada um torcer pelo time que gosta? E não é só no futebol. Basta uma foto de um casal formado por um rapaz negro e uma moça branca, ou vice-versa, ser publicada numa rede social que aparecem uns e outros protestando e ofendendo o casal. Como assim? Não é normal ou natural as pessoas se apaixonarem simplesmente? Não aguento mais ler nos jornais ou ver na televisão, casos de gays serem espancados ou mortos por conta de serem gays. Isto tem que acabar.

Chega de ser contra o gordo, contra a beleza, contra a feiura, contra o índio, contra o surdo, contra o candidato do outro, contra o amor do outro, contra a vida do outro, contra a escolha do outro. Outro dia, li uma declaração da escritora Ana Maria Machado: “O país que emerge das urnas no dia 26 está rachado ao meio e precisa, no dia seguinte, ser pacificado. Em vez de desqualificar divergências, tentemos entender que algumas pessoas que amamos, admiramos ou respeitamos votaram diferente de nós.” A colocação é perfeita. Pode ser um bom começo.

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