Por bferreira

Rio - Sabe quando o tempo nos atropela? Isso é todo dia. Você planeja coisas que não consegue fazer, mas estão todas resolvidas. Mentalmente. As eleições passaram, as pessoas botaram seus rancores para fora, outras nem perceberam que os têm e já é Natal nas lojas de departamento.

Você pensou que chegaria tão rápido? Pois é. Presidente (re)eleito e a vida continua. E-mails vêm e vão, substituídos agora pelo WhatsApp. Aprendi com meu sobrinho que e-mail é só para coisas que a gente quer arquivar, para outras o ‘zap’ dá conta. Para que falar WhatsApp, o nome do aplicativo? Também ninguém tem tempo para caprichar no inglês. Melhor abreviar.

As curvas fechadas me impedem de raciocinar, nem o tempo do engarrafamento a gente tem mais. Ou se informa, ou troca ideia, ou paga uma conta e só lembra que está respirando porque ainda está vivo. Acelerar e pisar no freio ininterruptamente, recurso dos motoristas de ônibus e táxis nas grandes cidades para fingir que estão andando mais rápido, transporta-nos a uma montanha russa. É muita aventura. Com bom humor, é até bom, porque você não tem tempo de ir a um parque de diversões mesmo. Isso só quando o seu filho estiver maior, ou você colocar em prática aquele encontro com amigos que estudaram juntos.

O sonho de respirar pode ser realizado durante o banho. Não. Não dá para demorar mais debaixo d’água, pois os reservatórios estão vazios e a gente tem que ter consciência. OK, vamos respirar ao ajeitar a postura na cadeira do trabalho e inspirar bem forte, soprando em seguida, para oxigenar o cérebro e notarmos que paramos um segundo. Quem sabe assim talvez tenhamos alguma ideia melhor de como ganhar tempo sem sacolejar a caminho de um dos muitos compromissos. O telefone tocou. Não atendeu? Que pena. Perdeu. Estava muito ocupada sendo importante.

O banho de sol dos presidiários pode ser uma boa para nós, prisioneiros da nossa própria rotina. Andar sob o sol e olhar para cima, ver os prédios, que bonitos, analisar o céu. É uma saída para aproveitar o pouco que o tempo nos dá. Curtir ao vivo os sorrisos, pois eles lavam a alma. Rir de si mesmo. Fingir que está passeando pela Europa se o céu estiver nublado e começar a caçar beleza por aí. Uma flor que nasce entre muros, a roupa colorida de alguém, o morador de rua que anda todo alinhado e lê jornal como se estivesse na sala de casa. Não precisa usar relógio, já temos o do celular, mas podemos controlar as horas e não deixar que elas nos controlem.

E-mail: karlaprado@odia.com.br

Você pode gostar