Rio - Na monarquia, forma de Governo mais antiga, e hereditária, o chefe de estado permanece no cargo até a sua morte ou sua renúncia. Na República, o chefe de governo assume o poder conferido pelo povo, através de eleição. O Brasil, monarquia nas Américas, no século 19, subverte estes modelos e cruza um e outro regimes ao prosseguir elegendo reis e rainhas.
A República positivista da Ordem e Progresso foi proclamada em 15 de novembro de 1889. No entanto, em pleno Estado laico, ou seja, com posição neutra em relação à questão religiosa, Nossa Senhora da Aparecida foi coroada, em 1904. A cerimônia religiosa e de júbilo contou até com a presença do presidente Rodrigues Alves. Portando manto anil e bordado em ouro e pedrarias, símbolos de sua realeza, mais tarde, em 1930, Aparecida foi solenemente reconhecida, pelo Papa Pio XI, como Rainha do Brasil. Mais a seguir, o dia 12 de outubro, reconhecido oficialmente pela República Federativa do Brasil, passou a ser consagrado à sua devoção.
No campo da cultura, Luiz Gonzaga zanzou e penou em Pernambuco, Ceará e Rio de Janeiro. Na Cidade Maravilhosa cantou na zona do baixo meretrício até mostrar seu imenso talento nas rádios da Cidade Maravilhosa. A voz do Rei do Baião, Luiz Gonzaga ecoou pelo país afora e suas composições continuam sendo regravadas revelando sua eterna realeza.
Igualmente no campo da cultura, a cantora e atriz Marlene veio de São Paulo, escondida dos rigores religiosos seguidos pela família, e ganhou o Rio de Janeiro e o país. Em 1949 foi eleita Rainha do Rádio e, por seu talento e performances inigualáveis, presença ímpar nos palcos, conquistou um rosário de títulos, tais como ‘A Incomparável’ e ‘A Maior’. Outro monarca, Roberto Carlos, passou a ser o Rei por conta de seu acervo musical, bem como sua voz e vendagem de discos absolutamente extraordinária em vários países do mundo.
No terreno dos esportes, Pelé tornou-se o Rei do Futebol por conta de suas admiráveis atuações que assombraram multidões, assim como exemplo de dedicação e habilidade invulgar. Nas quadras a Rainha Hortencia, mesmo tendo Magic Paula em seu encalço, sobressaiu no basquete com cestas “espíritas”, como afirmavam os locutores esportivos. A atleta foi campeã mundial e atestando seus magníficos desempenhos integra o Hall da Fama do basquete nos Estados Unidos.
Eis, portanto, o coroamento de majestades eleitas pelo povo desta República brasileira, celebrada no dia de amanhã.
João Baptista Ferreira de Mello é coordenador do Projeto Roteiros Geográficos do Rio – Uerj
