Por bferreira

Rio - A frase era uma espécie de clássico de mães desesperadas com a bagunça promovida por seus filhos. Incapazes de controlar aqueles pequenos aloprados, elas recorriam à última cartada: “Vou falar com o seu pai quando ele chegar em casa!”, berravam. Em quase 100% dos casos, o simples anúncio era suficiente para acabar com o caos e provocar uma repentina mudança na pauta de negociações. O importante, a partir do lançamento daquela sentença, um quase gol com a mão disponível apenas em momentos graves, seria impedir que a deduragem fosse consumada.

Mães, vale frisar, pareciam não gostar muito de recorrer à ameaça. Afinal, a frase representava também a confissão de que elas não haviam conseguido dar conta do problema. O recurso à autoridade paterna demonstrava que haviam falhado todas as tentativas de negociação e de constrangimento, que fora zerado o estoque de cartões amarelos. Ao jogar a toalha, elas meio que reconheciam a falência de solução negociada, que vinha temperada pelo carinho materno. Agora, seria na base da guerra: pais poderiam cortar festas de fim de semana, suspender o direito de ver ‘Batman’ por uma semana, cancelar idas ao clube ou à praia. Diante do fato novo, que rompia com todas as normas institucionais de convivência doméstica, crianças não tinham mais nada o que fazer ou argumentar, era hora de enfiar o rabo entre as pernas, tomar banho, jantar e dormir.

Ao ocupar as ruas e clamar por um golpe militar, manifestantes agem como as mães de outrora. Com os aventais sujos pelos ovos quebrados nos embates típicos da democracia, os marmanjos que ressuscitam as velhas vivandeiras de quartéis reconhecem suas próprias limitações. Ao berrar por uma solução autoritária, deixam transparecer sua incapacidade de dialogar e de conviver com o outro. Não querem saber de dúvidas, de negociações, sonham com um paizão, alguém que acabe com dúvidas, que imponha certezas, que não vacile em reprimir, em definir o certo e o errado, que aplaque inconfessáveis fantasias com fardas, canhões e vozes duras de comando.

Deixemos de besteira, somos todos grandinhos, não acreditamos em bicho-papão. Não precisamos de mães histéricas, de pais autoritários ou de meninos mimados que, quando contrariados, alardeiam o fim da brincadeira. A bola em jogo não tem dono, pertence a todos nós — o derrotado de hoje que trate de jogar melhor amanhã. Quem não respeita a regra do jogo ou insiste no Tapetão não pode descer pro play.

E-mail: fernando.molica@odia.com.br

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