Por bferreira
Rio - Nunca antes neste retângulo uma crônica teve continuação. Mas a entrevista do Noca merece. Vamos lá. Paulo Cesar de Andrade: Qual a sua música que você mais gosta de ouvir? Noca: Música é como filho, tenho centenas deles. No meu novo CD (‘Samba Verdadeiro, a entrevista é de 1998) gosto de ‘País dos Sem’. Com esta música me considero o Porta-Voz do povo brasileiro, que não tem acesso aos dirigentes. Jaguar: Fale das suas relações com Ulysses, Tancredo. E do FH, quando ainda era um dos nossos. Noca: Conheci esse pessoal através do Márcio Moreira Alves, o Marcito. Quando fiz o ‘Samba da Virada’, fiquei feliz por ter contribuído para o Brasil chegar à Democracia. Jaguar: Guardou alguma mágoa? Noca: Em 82, cedi a música sem cobrar direitos. Quase todos do PMDB foram eleitos, ninguém me agradeceu. Jaguar: Você poderia ter se enchido de grana. Nunca acordou de madrugada pensando nas contas a pagar e se arrependeu de ter cedido os direitos? Noca: Será que banquei o Mané nesta jogada? Mas não me arrependo de ter feito a minha parte por um país melhor. Jaguar: Nunca entendi como você conseguia ser boêmio e feirante.
Noca: Às vezes eu saía do jogo de ronda — eu era craque, ganhei muito dinheiro jogando — direto para a feira. Algumas senhoras diziam que tinha me visto na televisão, no programa de Flávio Cavalcanti. Eu dizia: ‘Não, madame, aquele é meu irmão gêmeo’. ‘Mas você não é o Noca?’ ‘Sou. Mas o meu irmão é tão gêmeo que também se chama Noca’. Jaguar: Uma coisa que sempre me intrigou é a alegria dos feirantes. Dão um duro danado mas estão sempre alegres. Noca: É uma grande família. A feira não pode acabar.
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Sem ela o pobre vai ficar sem ter o que comer. Paulo César: Qual foi o seu primeiro disco gravado? Noca: Foi em 1954. ‘Marlene, meu bem’. As fãs da Emilinha ficaram tiriricas da vida. Jaguar: Enquanto as macacas de auditório se engalfinhavam, as duas, na moita,eram amigas. Um golpe de marketing, antes de inventarem a palavra marketing. Noca: As duas gravaram músicas minhas. Uma vez, no Maracanã, eu estava na pior,de chinelo, a galera cantava a música da Marlene. Quando eu disse que era o autor da música, um cara chamou a polícia. A sorte é que tinha documentos provando que era o Noca. Paulo César: Quando vai sair aquele feijão esperto da dona Conceição? Noca: Sem menosprezar o fogão de dona Zica, é a maior cozinheira do Brasil. Jaguar: O que te deu alegria? Noca: Ver, com meu coração azul e branco, a Portela desfilar na Avenida.