Para cada juiz que se envolve em desvios de conduta existem mais de cem que cumprem seus deveres funcionais
Por bferreira
Rio - A mídia tem destacado casos de juízes que supostamente não atuaram em conformidade com as regras de conduta republicanas. Num dos episódios, embora as provas levadas aos autos sejam diversas das noticiadas e os julgamentos tenham sido favoráveis ao magistrado, interessa que ele seja colocado no ‘pelourinho midiático’ porque teve a ousadia de desafiar e vencer o monopólio da comunicação social. Isso é o bastante para que o magistrado seja colocado no pelotão de fuzilamento. Todo e qualquer julgamento que tenha sido submetido é taxado de corporativismo, mas a condenação prévia e sem o devido processo legal de dois jovens ativistas que tiveram a infelicidade de tirar a vida de um desprotegido cinegrafista não é corporativismo.
Para cada juiz que se envolve em desvios de conduta existem mais de cem que cumprem seus deveres funcionais e não merecem nenhuma linha de reconhecimento dessa mídia comprometida com a desmoralização da única instituição republicana que ainda garante os direitos dos desvalidos. No Brasil há 100 milhões de processos sendo decididos diariamente por abnegados magistrados que se encarregam de equilibrar uma das mais injustas balanças sociais do planeta, mas o que vira notícia é a busca de um salário justo e o reconhecimento da função.
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Os juízes dos juizados especiais cíveis do Rio decidem mensalmente mais de 50 mil demandas gratuitamente, rapidamente e de forma descomplicada em favor do menos favorecido, combatendo a avareza de empresários que sustentam com sua publicidade a mídia — e compram o seu silêncio.
Enquanto isso, exploram o trabalhador, vendendo produtos que não possuem e serviços que não prestam e superfaturando preços com usura real.
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Um sem-número de serviços da Justiça está à disposição da população gratuitamente, bastando acessar www.tjrj.jus.br. Não se nega que, como seres humanos, nós, magistrados, temos problemas e defeitos como qualquer pessoa. Mas não é justo que a mídia se comprometa com interesses contrários à população, como aquele que sustenta a publicidade para manter os corruptos no poder, ou que troca verbas de publicidade pela omissão na necessária denúncia das empresas e serviços que mais demandam o Judiciário — que não tem como se dedicar às causas verdadeiramente relevantes, como a falta de políticas públicas e o desrespeito aos direitos da pessoa humana.
Siro Darlan é desembargador do TJ e coordenador da Associação Juízes para a Democracia