Por bferreira
Rio - Todas as histórias de Natal são idiotas. Chegou a minha vez de contar uma. Isso não tem a menor importância; afinal, ninguém, exceto os comerciantes, acredita mais em Papai Noel. Pelo menos, largo na frente. Lanço a minha história 13 dias antes de os sinos bimbalharem. Lá vai: era uma vez um menino que sempre pedia uma estrela de verdade como presente de Natal. Em vão, os pais procuravam fazer com ele se contentasse com outra coisa. Soldadinhos de chumbo, revólveres, espadas, bola de futebol, livros do Menino Maluquinho, até mesmo uma estrela inflável prateada, que, ao ser tocada, desfiava um repertório de músicas natalinas — tudo foi tentado. O guri continuava de birra: queria ganhar uma estrela de verdade, e ponto final.
Até que um dia Papai Noel, que tinha exagerado na bebida, teve um ataque de nervos: “Vou buscar a porcaria dessa estrela para o moleque parar de encher meu saco!” E foi — apesar dos apelos dos seus auxiliares —, não no trenó puxado pelas renas, lentas e reumáticas, mas numa nave espacial da última geração que se deu de presente (para ele, todo dia é Dia de Natal). Pegou uma rede — não uma rede social, mas uma parecida com a dos caçadores de borboletas —, esperou a contagem regulamentar e, quando chegou a um milhão, o foguete decolou da sua base na Groenlândia, onde mora o Bom Velhinho, como todos sabem — menos as autoridades locais, que o procuram, sem sucesso, para pagar o IR. É fascinante, mas perigoso caçar estrelas. É preciso ter golpe de vista e punho firme porque elas são ariscas e têm ótimos reflexos. É preciso também muita coordenação; o caçador tem de manejar, ao mesmo tempo, a rede e estar atento aos controles da nave. Aconteceu o que os auxiliares temiam. Agora dificilmente receberão o 13º salário.
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Papai Noel, num lance infeliz, errou o golpe, perdeu o equilíbrio e projetou-se no espaço sideral, enquanto via sua nave se afastar e entrar em outra órbita. Agora flutua no espaço como um pequeno e vermelho corpo celeste, somente visível de Irkustsky, na antiga URSS, onde, por ironia do destino, ninguém tinha ouvido falar no Bom Velhinho. Essa história aconteceu na época de Stalin, que proibia qualquer menção a Papai Noel por ser um símbolo do capitalismo decadente — no que tinha toda razão.