Por bferreira
Rio - O fim de ano tinha que ser estudado. Tinham que captar esse sentimento de esperança que vai ficando para o final de dezembro. É um misto de medo com ansiedade (sentimentos normalmente ruins), mas, provocados por sensações boas como expectativa e visão futurista, acabam nos dando um ímpeto de coragem. Coragem de enfrentar tudo, resolver, respirar fundo, sentir o ar puro entrando no pulmão. Expirar rapidamente, para depois inalar mais lentamente, aumentando a capacidade dos pulmões e, assim, relaxar para o que está por vir. É como se, a essa altura do mês, fôssemos água na ponta de saída do funil e em segundos corrêssemos soltos. Vai tudo sendo espremido ali naquela pequena passagem para a liberdade.
Estudando, poderiam extrair esse hormônio que nos traz esse bem-estar específico e nós poderíamos tomar em cápsulas ao longo dos 12 meses seguintes. É uma fé, uma crença em tudo que pode dar certo; se não foi dessa vez, será da próxima. E, à meia-noite do dia 31, acreditaremos que o que pensamos e pedimos vai se concretizar de fato.
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O que dizer dos amigos ocultos do trabalho, dos presentes-surpresa com desejos sinceros, das mensagens que estavam na caixa de rascunho e foram finalmente enviadas, do ‘gancho’ para fazer contato? Vontade de pedir desculpa, de falar a verdade, de rir de todas as piadas. O dia seguinte é o dia seguinte e ainda não sabemos se haverá arrependimento do que foi feito, mas o que importa é hoje. E hoje é dia de festa... até o dia 1º de janeiro.
Ajudar e ser bom, práticas importantes todos os dias, ganham reforço nesta época, que deve ser de doação. Doação espiritual também. Dar um telefonema, ouvir atentamente, visitar quem está sozinho e também os doentes. Li duas coisas muito interessantes aqui nesse mesmo espaço, domingo e terça-feira, dignas de reprodução. Na coluna de Frei Betto, a lembrança a quem crê em Cristo de que encontrar Jesus é encontrá-lo vivo naqueles com os quais ele se identificou, estando presente e levando o bem. No texto de Milton Cunha, o desejo de viver num mundo inclusivo, respeitando que nossos semelhantes ajam e sejam de forma diferente da nossa e tenham Deuses com outros nomes.
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Às vezes, sofro bullying por ter fé. “Quem é Deus?”, perguntam meus amigos ateus. Deus é amor, é a conexão com algo bem mais profundo que dogmas religiosos. É espiritualidade, é aquela esperança ali do início do texto, que vai fazer do ano que vem um ano de realizações. Sem elas, como viver?
E-mail: karlaprado@odia.com.br
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