Por bferreira
Rio - O início do século 21 testemunhou, no Brasil, espécie de renascimento de vertente que só retomou fôlego na década de 60, alcançando seu ‘neoapogeu’ no início dos anos 80: a dos grupos vocais dedicados à música popular. Sem constituir exatamente um movimento, na virada dos anos 90/2000 começaram a se formar em diferentes pontos do país conjuntos vocais dos mais surpreendentes, seja pela excelência técnica e artística ou pelas inovações no modo de se cantar, arranjar e conceber o que se conhecia como música ‘a cappella’.
Se conjuntos como o Bando da Lua, na década de 30, Quatro Azes e um Coringa, Demônios da Garoa e Os Cariocas, na década de 40, já haviam elevado o patamar da música popular e vocal a níveis internacionais, nas décadas de 60/70 imenso público prestigiou quartetos vocais como o MPB4 e o em Cy.
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Se, em fins da década de 70 e início dos 80, Boca Livre e Céu da Boca rompem as barreiras impostas pela indústria fonográfica e ‘explodem’ nas rádios (o Boca Livre foi o primeiro a ultrapassar a venda de cem mil discos, e o Céu da Boca seduziu a então poderosa Polygram); se, em 1981, o Cobra Coral, com sua performance cênico-musical, chega à finalíssima do Festival MPB Shell, na primeira década de 2000 assiste-se à gênese de nova geração, não menos brilhante, não menos premiada.
Trazer à cena esta novíssima geração de grupos vocais, traçando um painel da produção contemporânea do gênero — com percussões vocais; trombones, pandeiros, cuícas e contrabaixos ‘sintetizados’ por vozes; harmonias ousadas e sofisticadas; humor; paródias e esquetes; inserções cênicas em clássicos da música popular —, vem sendo a principal meta do Festival Brasil Vocal, que está na quarta edição.
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Do sonho tornado realidade em 2011 até agora já se somam centenas de novos arranjos a dezenas de novos grupos; publica-se o terceiro álbum de partituras, desta vez com os arranjos selecionados em 2013; reúnem-se os grupos vencedores da terceira edição aos consagradíssimos grupos da MPB, representados neste ano pelo MPB4, e, ainda, a alguns que vêm se firmando no cenário nacional: Alma de Gato, Gó Gó Boys, Quarteto Primo, 4 Cantus e Os Men The Sá. A íntima relação entre MPB e grupos vocais é indubitável, e o Festival Brasil Vocal CCBB vem formando a cadeia de fomento que nos parece tão imprescindível à permanente renovação de nossa cultura musical.
Carlos Belém é produtor e curador do Festival Brasil Vocal CCBB
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